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450 anos de exclusão


Publicado pela revista Carta Capital 26/01/2004

É tradição considerar 25 de janeiro de 1554 como o dia da fundação de São Paulo. Na verdade, foi em 1560 que o governador-geral, Mem de Sá, mandou desocupar a indefensável vila de Santo André da Borda do Campo (na realidade, situada na atual Mauá), fundada por João Ramalho em 8 de abril de 1553, e transferir moradores, Câmara, cadeia e pelourinho para o morro no qual, a partir da data tradicional, o padre Manuel da Nóbrega reunira 13 jesuítas e 120 nativos de três aldeias vizinhas, em torno de seu Colégio de São Paulo. Foi só então que passou a existir a vila conhecida como São Paulo do Campo de Piratininga.

Dois anos depois, guerreiros tamoios liderados pelos caciques Jaguanharo e Arari, decididos a exterminar o incipiente centro da escravização dos índios brasileiros, atacaram a vila às margens do rio Piratininga (atual Tamanduateí) por duas vezes. A defesa organizada pelo cacique Tibiriçá e seu genro João Ramalho, para a qual foram vitais os ainda incompletos muros de taipa de pilão, salvou os 80 “moradores” (na realidade, até 800 habitantes – só se contavam então os homens livres) e evitou que a história de São Paulo terminasse no berço.

No ano seguinte, Nóbrega e Anchieta convenceram os tamoios a aceitar a paz com a promessa de acabar com a escravidão indígena, formalmente proibida pela coroa portuguesa em 1570, “salvo no caso de guerra justa”. Para a jovem vila do planalto, porém, toda guerra era justa e nenhum juramento sagrado quando se tratava de capturar “negros da terra” – como chamavam os escravos nativos, mais baratos que os trazidos da África. Até 1650, os bandeirantes paulistas caçariam mais de 300 mil índios – o equivalente à atual população indígena do Brasil.

Por sua vez, até serem totalmente extintos ou submetidos, os índios livres das vizinhanças de Piratininga continuaram a resistir e ameaçar a vila. Sua última incursão foi em 1593.

Pois conta o historiador Afonso de Escragnolle Taunay que, em 1575, durante uma trégua transitória nessa luta de vida ou morte, três moradores abriram passagens nos muros e portais que protegiam a vila, nos pontos que lhes pareceram convenientes. Desconhecidos quebraram e queimaram guaritas que abrigavam as sentinelas. O vereador Antônio Fernandes arrancou um portal e o vendeu ao vizinho por 250 réis.


Fernandes foi intimado a devolver o portal e os moradores irresponsáveis a tapar as aberturas feitas no muro. Um deles, chamado Domingos Roiz, não obedeceu. A Câmara mandou fazer o serviço e cobrou-lhe a despesa. O infrator não se deu por achado: queixou-se ao capitão-mor de São Vicente de que o fechamento da passagem incomodava sua mulher e cunhadas, que agora precisavam dar uma “enorme” volta com as escravas para chegar à sua roça (no máximo 500 metros, dado o tamanho da vila na época). Pedia licença para abrir de novo a passagem. O capitão-mor não a concedeu, mas dispensou-o de pagar a indenização.

Impossível não ver aí um presságio do que seriam os próximos 400 e tantos anos da capital bandeirante. O arraial do século XVI tornou-se, neste século XXI, uma das maiores megalópoles do planeta e amplificou a uma escala inacreditável as deformações e tormentos causados por conflitos sociais, oportunismos míopes, falta de princípios, depredação gratuita (ou lucrativa) do patrimônio público e apropriação ilegal e descarada de bens que deveriam servir a todos, que o município e o Estado acabam por aceitar como fato consumado.
Nada continua mais característico de São Paulo que a insensibilidade ante o futuro e a coletividade – indiferença não só pelo conjunto quase inimaginável dos mais de 18 milhões de cidadãos (população folgadamente maior que a da Holanda ou do Chile), como também até os mais próximos, física ou socialmente.
Veja a íntegra em:

http://cartacapital.terra.com.br/site/exibe_materia.php?id_materia=1221&PHPSESSID=c02acd7e96a055381d8f86974cb9fefd

Revista Carta Capital

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