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Fim da escravidão depende de punição


Publicado pelo jornal Folha de S.Paulo 02/01/2004

Quase 116 anos após a abolição formal no Brasil, a escravidão contemporânea segue enraizada -sobretudo graças ao seu baixo custo econômico- e pode atingir até 200 mil pessoas no país.
A opinião e a estimativa "pouco precisa", como ele próprio assinala, são do sociólogo norte-americano Kevin Bales, 51, considerado o maior especialista mundial em escravidão contemporânea, que por oito anos pesquisou o tema em países de cinco continentes.
Para combater a prática no país, o governo Lula deveria tomar seis medidas, na opinião de Bales, entre as quais reformar a lei de modo a permitir que a investigação "siga o dinheiro" para encontrar os beneficiários finais da utilização do trabalho escravo (quem, na ponta, compra com baixo custo o que é produzido pelos trabalhadores explorados) e aumentar o número de equipes especiais de combate à prática.
Parte do esforço está no livro "Disposable People: New Slavery in the Global Economy" (Pessoas descartáveis: a nova escravidão na economia global), publicado em 2000 nos EUA e traduzido para nove línguas, inclusive o português -de Portugal.
No Brasil, as andanças de Bales o levaram às carvoarias de Água Clara (MS), cidade distante 190 km de Campo Grande -um dos grandes focos de trabalho escravo investigados no país.
"Apesar de perceberem que estavam numa situação de endividamento e mesmo sabendo que isso era ilegal, eles consideravam como uma questão de honra continuar ali até pagar o débito de alguma forma. Isso foi muito marcante para mim", lembra Bales.
O Brasil, aliás, foi o único país ocidental a receber um capítulo no livro de 2000. Aparece ao lado da Mauritânia, da Índia, do Paquistão e da Tailândia.
Bales estima que existam no Brasil até 200 mil escravos -número aproximado a que chegou estudando as atividades em que tem se concentrado a exploração do trabalho escravo. Em todo o mundo, o número de escravos chega a 27 milhões.
Sobre o assassinato de três fiscais do Trabalho mais um motorista no interior de Minas Gerais, na semana passada, Kevin Bales diz: "Temos tido pessoas feridas ou assassinadas em todo o mundo. Isso mostra a violência usada pelos donos de escravos."
Há três anos, o sociólogo pesquisa escravidão nos EUA, cuja população escrava varia de 50 mil a 100 mil pessoas, segundo ele. Estuda também formas de reabilitação dos ex-escravos.
Leia a entrevista concedida por telefone de Oxford (Mississippi):

Folha - Como o sr. define a escravidão contemporânea?
Kevin Bales - A escravidão pode ser definida hoje da mesma forma como foi reconhecida durante toda a história da humanidade. Pode-se definir escravo como uma pessoa sob controle total de outra pessoa por meio de violência ou de ameaça de violência. Um escravo não recebe nenhum pagamento e é explorado economicamente. Os escravos podem ser alimentados, mas não há nenhuma forma de pagamento razoável.
Folha - No Brasil, qual é a diferença entre a escravidão atual e a do tempo colonial?
Bales - A diferença fundamental hoje é o baixo custo de um escravo. No passado, um escravo no Brasil era uma mercadoria muito cara, o equivalente a milhares de reais. Hoje, pode-se levar uma pessoa à escravidão por meio de trapaça, prometendo emprego e a levando para a área rural por uma quantia bem pequena, poucas centenas de reais. Esse fator é muito perigoso. A partir do momento em que as pessoas são tão baratas, elas não representam um investimento. Para pessoas inescrupulosas, há poucos motivos para não matá-los caso decidam ser essa a forma mais fácil para lidar com eles.
Folha - A questão econômica é portanto o fator-chave da escravidão?
Bales - Obviamente é avareza econômica. Mas não é o único motivo. Nossa ignorância sobre escravidão moderna encoraja os escravizadores. Essa ignorância é tanto da opinião pública quanto dos governos.
Leia a entrevista na íntegra em:

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc0202200428.htm

Folha de São Paulo

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