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A redação e o vestibular


Artigo de José Luís Landeira na Folha de S.Paulo 17/02/2004

A redação nos chamados grandes vestibulares não é bem o que se apregoa no ensino médio. Para atender ao que Unicamp, Unesp e USP, por exemplo, pedem a seus futuros alunos, o candidato deve conseguir superar o modelo oferecido pela maioria dos colégios e cursinhos.

Uma redação que siga uma estrutura muito divulgada de introdução, com resumo do assunto abordado, desenvolvimento genérico do tema proposto e conclusão retomando a introdução, consegue no máximo uma nota mediana. Muitas redações mal pontuadas escondem o triste paradoxo de o candidato acreditar que havia feito um bom trabalho.

Antes de tudo, o perfil que as consideradas grandes universidades procuram é o do aluno que tenha algo a dizer. Por exemplo, o tema deste ano da Fuvest, o tempo, exigia uma abstração ao mesmo tempo científica, sociológica e filosófica que não é comum na escola brasileira e não faz parte do cardápio usual dos cursinhos.

A interdisciplinaridade é ainda, numa grande parte das instituições, apenas um motivo para campanhas insossas e românticas sobre o ambiente. Sem conseguir transitar entre as diversas disciplinas para produzir uma dissertação, o candidato pouco tem a oferecer —a não ser idéias mal articuladas entre si, preenchendo um modelo fornecido de antemão. Conseqüência? Certamente uma nota baixa.

Sobre um tema como o tempo, muitos conseguiriam, nesse último vestibular, citar conceitos de sala de aula como "o tempo é relativo" ou "o passado explica o presente". Contudo é reduzido o número dos que justificariam razoavelmente tais teses fugindo de clichês mal formulados, como "se Hitler tivesse estudado o passado, não teria repetido o erro de Napoleão, ao invadir a Rússia no inverno". Poucos pensariam na possibilidade de Hitler dispor de um armamento superior ao que Napoleão utilizara um século antes. A questão poderia ser não de desconhecimento histórico, mas de orgulho e crença na tecnologia da época.

Outro problema é o modelo de dissertação que se forneceu aos alunos no ensino médio ao longo de sua formação. Trata-se de um modelo muito repetitivo e que não foca no principal: a posição do candidato sobre o assunto. Ao contrário, é comum as aulas de redação incentivarem os alunos a não se posicionarem, esquecendo que uma dissertação é a defesa de um ponto de vista, em um texto que deve transmitir uma imagem de autoria confiável, de maneira que o leitor se sinta motivado a interagir com as idéias expostas.

A dissertação é um texto complexo e para o qual, sem um trabalho interdisciplinar sério, aulas de "redação" apenas oferecem ajuda limitada.

Para transmitir uma imagem de confiabilidade, a dissertação deve apresentar argumentos coerentes entre si e com a realidade. O tema da Unicamp deste ano, por exemplo, solicitava ao aluno posicionar-se a favor da multiplicidade dinâmica que caracteriza as cidades. Isso requer uma postura crítica a partir de um conhecimento cultural razoável, em que a coletânea de textos fornecida ecoaria com a experiência pessoal e com outras leituras feitas pelo aluno.

Os argumentos, por sua vez, deveriam ser apresentados de forma devidamente encadeada. Em muitas redações, verifica-se a presença de conectivos que não estabelecem nenhuma relação com o exposto anteriormente. Um candidato que escreve "há vários tipos de cidade, portanto não podemos afirmar qual é a melhor" desenvolve uma inexistente relação de causa (há vários tipos de cidade) e conseqüência (não podemos afirmar qual é a melhor).
Leia o artigo na íntegra em:

http://www1.folha.uol.com.br/folha/sinapse/ult1063u739.shtml

Folha de São Paulo

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