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Trágica desvalorização do professor


Editorial do jornal O Estado de S.Paulo 25/02/2004

Se é verdade que o tema da Educação, nos dias de hoje, tem lugar muito mais importante do que tinha antes da era FHC na pauta de nossas discussões socioeconômicas, administrativas e políticas, muitas vezes se tornando item prioritário de programas de governo, alardeado em campanhas eleitorais, verdade também é que essa valorização quase consensual da atividade do ensino em nosso país não se reflete em uma melhora da condição - de trabalho e nível de vida - para os professores brasileiros, especialmente os do ensino público de base. E a generalizada falta de motivação, dos jovens, para ingressar no magistério faz prever uma carência enorme de professores em áreas de conhecimento fundamentais - particularmente matemática, química, física e biologia, mas também em ciências humanas -, visto que faltarão substitutos para a grande parcela do professorado de ensino básico que está para aposentar-se.
Um quadro fiel dessa situação é apresentado pela educadora Maria Luiza Marcílio, pesquisadora do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial, em artigo publicado em nossa edição do dia 12/2. A educadora dá conta de que os cursos de formação de professores para o ensino público estão se esvaziando, enquanto faltam cerca de 250 mil professores, com formação superior, no ensino fundamental de 5.ª a 8.ª séries e no ensino médio. Enquanto o Brasil precisa, por exemplo, de 55 mil professores de química e outro tanto de física, no País só se formaram, nos últimos anos, 7.266 professores de física e 13.559 de química. E em São Paulo, segundo dados da Secretaria de Educação (referentes a 2001), 18,4% dos professores de física e 19,9% dos de química não tinham a formação mínima necessária para lecionar essas matérias, pelo que o faziam em caráter "excepcional", porque não há como preencher os quadros nas escolas - não sendo diferente a situação quanto às disciplinas matemática, biologia e geografia.
Os jovens estão desmotivados para ingressar no magistério pelos salários baixos (média de R$ 500,00 a R$ 700,00, por 20 horas semanais), pela violência nas escolas e pela superlotação em salas de aula. A educadora Maria Luiza enfatiza que "pouco se pesquisa sobre a formação do professor e menos ainda sobre as reais condições nas salas de aula das escolas públicas, sobretudo das periferias das grandes metrópoles". Diríamos, a propósito, que a simples leitura diária das seções policiais dos jornais já nos dá o cenário onde se trava a luta heróica e inglória de professoras e diretoras de escolas das periferias das grandes cidades, para proteger seus alunos da violência e do banditismo em geral, notadamente o sustentado pelo narcotráfico.
Houve um tempo - e a atual geração de jovens brasileiros jamais pôde testemunhar isso - em que a profissão (para muitos missão) dos professores do ensino público fundamental era merecedora do maior respeito, dos governos e da sociedade. Era uma função que atraía, dava orgulho a quem a exercia, propiciava pelo menos uma remuneração digna e, acima de tudo, granjeava um notório reconhecimento social. Certamente esse prestígio profissional decorria do entendimento tácito - da sociedade - da importância do trabalho de formação das futuras gerações do País. Desgraçadamente, em algum momento de nossa história política e administrativa contemporânea, no campo do ensino público fundamental e médio, a formação educacional de nossas crianças passou a ser relegada a posições bem abaixo do segundo plano.
A conseqüência de tudo isso é o fato de que "o Brasil vem sendo campeão das piores colocações em testes, nacionais e internacionais, de avaliação do aprendizado do ensino fundamental" - como conclui a educadora.
Há que exigir de todos aqueles - especialmente políticos em época eleitoral - que "enchem a boca" ao dissertar sobre grandes planos em favor da "prioridade" Educação que tenham, pelo menos, a sensibilidade de demonstrar algum plano concreto tendo por objetivo acabar, de uma vez, com a trágica desvalorização do professor, em nosso país.

http://txt.estado.com.br/editorias/04/02/25/editoriais002.html

O Estado de São Paulo

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