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A longevidade dos neurônios


Artigo de Drauzio Varella na revista Carta Capital 10/03/2004

É muito provável que os nossos neurônios não morram com a facilidade que imaginávamos.
A teoria de que perdemos neurônios a cada dia que passa surgiu a partir de um trabalho de H. Brody, publicado nos Estados Unidos em 1955. O autor fez cortes para estudos microscópicos do tecido cerebral de indivíduos cujas idades variavam entre alguns meses e 95 anos, corou-o com uma substância que torna os neurônios visíveis e contou-os. Identificou perda significativa dessas células de acordo com o avançar da idade, inclusive em áreas essenciais para manter a capacidade de planejamento e em centros que controlam a percepção de estímulos sensoriais.
Essas evidências justificavam a deterioração neurológica progressiva da maioria das enfermidades associadas à senectude, mas nunca explicou o caso dos idosos lúcidos. A perda diária de neurônios afetou a qualidade dos contos de Borges? A dos quadros de Matisse? A dos textos decorados por Paulo Autran?
A teoria da morte progressiva de neurônios começou a ser contestada a partir da publicação dos trabalhos de H. Haug, da Universidade de Lübeck, Alemanha, em 1984. Num estudo com 120 cérebros humanos, o autor fez uma observação singela: o tecido cerebral encolhe quando cortado para exame no microscópio. Como o cérebro jovem é mais elástico, a concentração de neurônios por centímetro quadrado fica maior – da mesma forma que dois alfinetes num elástico esticado se aproximarão se o deixarmos contrair.
A partir de então, a revisão rigorosa dos procedimentos utilizados pelos pesquisadores que estabeleceram o dogma da morte neuronal inexorável deixou claro que ele havia sido estabelecido a partir de trabalhos com problemas metodológicos capazes de comprometer as conclusões.
Com o advento de técnicas tridimensionais, muito mais precisas, para a contagem de neurônios, diversos pesquisadores demonstraram que, salvo em condições patológicas, o envelhecimento não está obrigatoriamente associado à morte progressiva de neurônios.
Como explicar, então, a queixa de perda de memória tão freqüente nas mulheres e homens de idade?
Descartados a doença de Alzheimer, outros quadros demenciais e demais patologias que afetam a cognição, é provável que as queixas de perda de memória associada à idade sejam conseqüência de um longo processo influenciado por diversos fatores:

1. O mecanismo de aprendizado envolve circuitos de neurônios que se conectam a partir de diferentes centros cerebrais. Neurônios não estão ligados uns aos outros como fios elétricos: suas terminações não se tocam, ao contrário, deixam um espaço livre entre elas, chamado sinapse. Na sinapse, são liberados íons e os mediadores químicos necessários para a condução do estímulo nervoso, que pode trafegar em velocidades vertiginosas (medidas em milissegundos). A preservação desse mecanismo implica não apenas a estimulação adequada nas fases de desenvolvimento, como no uso continuado pelo resto da vida.

2. A impressão de perda de memória muitas vezes está ligada à quantidade de “bites” armazenados. Calcula-se que o número de informações acumuladas no cérebro de um homem de 50 anos seja, pelo menos, três vezes maior que o contido no de um rapaz de 25.

3. Mesmo sem ocorrer morte de neurônios, a memória pode se deteriorar em função de outras alterações neurológicas.

4. O decréscimo da produção de estrógeno, característico da menopausa, interfere em eventos neurológicos que podem conduzir a deficiências cognitivas. É provável que os homens sofram fenômeno semelhante.

O dogma de que milhares dos nossos neurônios morrem todos os dias caiu em descrédito na neurociência atual. Se essas células não desaparecem em massa como pensávamos, a deterioração progressiva da inteligência e da motricidade na velhice não é obrigatória.

http://cartacapital.terra.com.br/site/exibe_materia.php?id_materia=1304

Revista Carta Capital

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