Unifesp vai testar vacina contra o HIV |
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Publicado pelo jornal Folha de S.Paulo 16/03/2004 |
A Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) começa, nesta semana, a selecionar voluntários para testar uma vacina preventiva contra o vírus HIV. É a primeira vez que a universidade testa esse tipo de vacina --trabalho feito, em anos anteriores, por outros centros de pesquisa do país.
Podem ser voluntários adultos sadios, que não estejam sob medicação e apresentem condutas com baixo risco de infecção pelo vírus. Os interessados podem se inscrever por meio do site www.vacinashiv.unifesp.br. Após o cadastro, será feita uma análise para saber se os candidatos têm os requisitos necessários para o teste.
O estudo é financiado pelo grupo farmacêutico Merck e pela HVTN (Rede de Ensaios de Vacinas anti-HIV), uma organização para pesquisas sobre Aids com sede nos EUA. Desde o início do ano, 435 voluntários participam do projeto em oito países da América do Norte, Ásia e África.
O Brasil, aprovado na última semana para integrar o estudo, terá três centros credenciados: a Unifesp, a UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e o CRT-Aids (Centro de Referência e Treinamento em Aids da Secretaria de Estado da Saúde).
"É um estudo em fase inicial de uma vacina preventiva, ou seja, não é para o tratamento de quem já possui o vírus. Vamos testar se ela é bem tolerada pelo organismo e se ela faz com que a pessoa desenvolva uma resposta contra o HIV", afirma o médico infectologista Esper Kallás, responsável pela pesquisa na Unifesp.
Kallás afirma que a vacina usa um vírus chamado adenovírus, que foi modificado para não ser capaz de se multiplicar, mas que traz informações genéticas que estimulam a pessoa vacinada a produzir defesa imunológica contra o HIV. A vacina não é produzida com vírus HIV vivo, portanto não há risco de os voluntários serem contaminados com a doença.
A pesquisa está na fase 1, ou seja o primeiro teste em humanos após experiências de sucesso em animais. Essa fase deverá levar cerca de dois anos, com ao menos 12 voluntários em cada centro.
Se a vacina se mostrar segura em humanos, haverá a fase 2, na qual os pesquisadores tentarão descobrir as melhores dosagens da droga. A última fase, número 3, serve para confirmar se o produto realmente tem eficácia. Só uma pesquisa feita no país chegou à fase 2, mas foi abortada. No mundo todo, dois trabalhos conseguiram chegar ao nível 3 em 2003, mas fracassaram e não obtiveram licença para uso, diz Kallás.
"É importante deixar claro que essa vacina visa controlar a carga virótica no organismo. Mas não vai ser uma vacina que vai eliminar o vírus", afirma Jorge Beloqui, representante das organizações não-governamentais no Conselho Nacional de Saúde e membro do GIV (Grupo de Incentivo a Vida), que edita um boletim sobre as vacinas anti-HIV.
Beloqui diz que o objetivo da vacinas preventivas anti-HIV é fazer com que a pessoa, ao se contaminar, tenha uma quantidade menor de vírus no organismo, o que aumentaria bastante o tempo de evolução da doença. "Hoje, é o único teste que está sendo feito no país. Mesmo assim, temos de ter um otimismo moderado."
Atualmente, são desenvolvidos em centros de pesquisa e empresas farmacêuticas dois tipos de vacina: as terapêuticas, que visam tratar do paciente portador do HIV, e as preventivas, para os que não possuem o vírus.
http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u91497.shtml
Folha de São Paulo
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