Preconceitos são incompreendidos por estudantes |
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Publicado pelo site Aprendiz 23/03/2004 |
Estudantes universitários têm ampla consciência da existência do racismo em suas formas individuais, mas não têm grande percepção da discriminação institucional. A afirmação está na tese de doutorado "Racismos e anti-racismos na perspectiva de estudantes universitários de São Paulo", realizada pela socióloga Paula Cristina da Silva Barreto, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.
Segundo a pesquisadora, a maioria dos estudantes não considera a desigualdade como manifestação do racismo - a tendência é perceber a desigualdade apenas em sua dimensão econômica. "Ninguém mencionou a ausência de negros na mídia, na própria universidade e em cargos importantes de empresas e do governo. Ou seja, a discriminação institucional ", diz a socióloga.
A pesquisa traçou um panorama de como as manifestações de racismo são percebidas pelos alunos na Universidade de São Paulo. Para desenvolver o estudo, a socióloga aplicou 55 entrevistas com roteiro pré-definido, que permitiram a análise da argumentação e das percepções dos estudantes de graduação de várias faculdades dentro da USP.
As entrevistas, que foram feitas com estudantes negros, brancos e de origem asiática, incluem, além das questões sobre a desigualdade racial, a história de como cada entrevistado chegou à universidade. Segundo a socióloga, os estudantes não negam a existência do racismo. "Muitos deles mencionam casos de preconceito racial relacionados à família, a namoros e casamentos envolvendo pessoas próximas ou elas mesmas", conta.
Nesse contexto, a posição dos estudantes é de indignação em relação ao racismo. Os entrevistados também identificaram com freqüência a discriminação racial ligada à trajetória escolar. "Menções a insultos, piadas e à ridicularização nas escolas, em função da cor, aparecerem principalmente nos relatos dos estudantes negros", conta Paula. Segundo ela, o tratamento discriminatório dos negros pela polícia também foi lembrado.
Para a cientista, a falta de preocupação com o racismo institucional tem raízes no forte traço de individualismo que caracteriza a juventude atualmente. "Muitos disseram que a solução para incluir o negro na Universidade seria investir na escola pública. Isso pressupõe que o indivíduo deve crescer e vencer sozinho. Eles excluem as soluções coletivas, ligadas à mobilização e à ação afirmativa", diz a socióloga.
Segundo ela, um argumento bastante presente entre os estudantes é que o problema do negro é a pobreza, que ele poderia entrar na universidade se tivesse dinheiro. "É uma visão incompleta, porque eles tomam as conseqüências por causas. Sabemos, por exemplo, que quanto mais o homem negro tem escolaridade, maior sua defasagem salarial em relação ao branco", conclui a pesquisadora.
http://www2.uol.com.br/aprendiz/noticias/ensino/id230304_00.shtml
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