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Os descaminhos da pesquisa


Publicado pelo caderno Sinapse, da Folha de S.Paulo 30/03/2004

Após 11 anos de educação básica, quatro ou cinco de graduação e pelo menos dois de mestrado e três de doutorado, o pesquisador consegue o almejado título de doutor, o que o torna apto a iniciar sua carreira. Mal sabe ele, no entanto, que, ao receber o diploma, em média aos 35 anos, esse "recém-nascido" pesquisador estará apenas no início da tarefa mais difícil: encontrar um lugar ao sol.

No Brasil, os mais de 20 anos de estudo não são suficientes nem para a obtenção de uma bolsa, já que o funil é muito estreito. As principais agências de financiamento de pesquisas no país não atendem nem a 10% da demanda por bolsas. Para ter uma idéia, somente o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) tem cerca de 16 mil pedidos de bolsa para 2004, dos quais espera atender a apenas mil.

Além de trabalhar nas instituições públicas —onde a concorrência acirrada é combinada com uma remuneração que deixa a desejar—, o pesquisador pode tentar ir para as faculdades privadas (e se dedicar quase integralmente a dar aulas para aumentar seu salário), ser contratado pelo departamento de pesquisa de uma empresa (e perder em autonomia no direcionamento de seu trabalho) ou ser adotado por um centro do exterior (e deixar o país). Escolhas nada fáceis para quem sonhou por anos seguir a carreira de cientista no país onde nasceu.

As dificuldades começam nas universidades públicas, onde os concursos para ocupar uma cadeira de docente estão cada vez mais raros. Nas universidades federais, segundo a Andes (Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior), não há abertura significativa de vagas desde o governo de Fernando Collor (1990-1992).

Caso supere esse obstáculo, o profissional contará com estabilidade, mas terá também de lidar com baixos salários —no topo da carreira, um professor de universidade federal pode chegar a receber um salário de, no máximo, R$ 4.900, segundo a Andes.

Quem se depara com essa situação não imagina que a pós-graduação sempre foi a menina-dos-olhos do sistema educacional brasileiro. Estruturada a partir da década de 50, levou o país à liderança da produção científica na América Latina. Hoje, o sistema titula quase 7.000 doutores por ano —e tem a meta, estipulada pelo governo Lula, de chegar a 10 mil anualmente.

A superprodução de cérebros, no entanto, precisa vir acompanhada de uma política mais abrangente para a área, segundo Elizabeth Balbachevsky, 47, pesquisadora do Nupes (Núcleo de Pesquisas sobre Ensino Superior), da Universidade de São Paulo.

"Quando resolvi ser pesquisadora, achei que bastava me doutorar, mas encontrei um cenário de muita competição", conta a bióloga Patrícia Narvaes, 34, que recebeu o título em setembro passado e, até agora, pôde participar de apenas um concurso, no Instituto Butantan, em São Paulo.

Enquanto se prepara para outro, fora de sua área de atuação, Patrícia estuda alternativas, como procurar uma vaga de professora em faculdade particular ou prestar concursos em outros Estados. "Se não conseguir, penso até em mudar de área", afirma.

O biólogo José Artur Barroso Fernandes, 37, vive um dilema parecido. Fernandes está no segundo ano do doutorado na Faculdade de Educação da USP e concorre pela terceira vez a uma bolsa. Se não tiver sucesso, terá de recorrer, como fez no mestrado, a empréstimos e a trabalhos temporários para conseguir continuar sua pesquisa em educação ambiental.

Mesmo se conseguir a bolsa, Fernandes sabe que não será fácil sobreviver. O CNPq paga R$ 1.267 por mês ao doutorando, e as agências de financiamento de pesquisa proíbem o vínculo empregatício a seus bolsistas. "Esses valores acabam forçando as pessoas a procurar subempregos", diz.
Veja a íntegra em:

http://www1.folha.uol.com.br/folha/sinapse/ult1063u787.shtml

Folha de São Paulo

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