O preto no branco da criação |
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Publicado pelo caderno Sinapse, da Folha de S.Paulo 30/03/2004 |
Aos 70 anos, depois de ter publicado obras-primas como "O Aleph" e "Ficções", Jorge Luis Borges (1899-1986) começou uma aula sobre a arte de escrever dizendo: "Dediquei a maior parte de minha vida à literatura e só posso lhes oferecer dúvidas".
Se, para um dos maiores criadores do século 20, a literatura continuou sendo um enigma, o mistério pode parecer insolúvel para quem pretende se tornar um escritor. Não existe uma chave certa, apenas lanternas que ajudam a orientar o autor nos primeiros passos do espinhoso caminho.
Duas são de fácil acesso: a leitura dos manuais e a participação nas oficinas literárias. Além delas, há grupos de discussão na internet, revistas especializadas em novos autores (afinal, não existem escritores sem leitores) e concursos para iniciantes —úteis para quem quer testar o "valor" de seu trabalho.
Mas a maioria dos escritores concorda que um ponto é essencial: para escrever bem, é preciso ler muito. O escritor mineiro Autran Dourado, 77, autor de mais de 19 livros e ganhador do Prêmio Camões em 2000, também recomenda: "Leia os que sabem escrever bem. Não leia coisas ruins". Dourado diz que costuma reler Machado de Assis todos os anos, para "limpar a língua". O conselho está no livro mais recente do escritor, "Breve Manual de Estilo e Romance" (Editora UFMG, 75 págs., R$ 12), que trata justamente do fazer literário, misturando suas memórias e sua experiência com dicas para os aprendizes da escrita.
"Se você quer ser mesmo um escritor, um escritor de verdade, um escritor criativo, lembre-se sempre de que escrever é um ato mimético de apropriação e astúcia. Daí a necessidade de ler constantemente os bons autores, conscientemente imitá-los (antes de você ser realmente um escritor), parodiá-los nos seus exercícios", recomenda Dourado. Outro mandamento é buscar o exemplo dos autores consagrados, mas ele faz uma ressalva: "Evite os gênios, porque você, por ignorância, poderá escolher um gênio louco e irá sofrer muito".
Ideais para quem só quer cumprir a tríade "plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro" —e não necessariamente "viver da poesia"—, dois manuais dão receitas rápidas para escrever um romance: "O Escritor de Fim de Semana - Como Escrever um Romance com Criatividade em 52 Fins de Semana" (Ática, 292 págs., R$ 29,90), do norte-americano Robert J. Ray, e "Você Já Pensou em Escrever um Livro? Informações Fundamentais para Tornar-se um Escritor de Sucesso" (Samm Editora, 126 págs., R$ 19,90), de Sonia Belloto.
"O Escritor de Fim de Semana" apresenta um passo-a-passo para a produção de um livro no prazo de um ano. O autor, que recomenda até os tipos de caneta e caderno que o autor recém-chegado ao ofício deveria usar, exemplifica seu método usando trechos de um best-seller, "O Turista Acidental", de Anne Tyler. Ray traça um plano de ação bastante pragmático para a construção de um romance, com tópicos que explicam o desenvolvimento dos personagens e a criação da cena de abertura, por exemplo.
Lançado há poucos meses, "Você Já Pensou em Escrever um Livro?" é a segunda obra de Sonia Belloto, 47, que há três anos trocou a musicoterapia pelos livros, "sua paixão".
Escrito em duas semanas, o guia apresenta as técnicas da oficina organizada pela autora para a formação de escritores, inspirada em cursos norte-americanos de expressão. O método reproduz a jornada do herói publicada no livro "O Herói de Mil Faces", de Joseph Campbell. Sonia explica ainda o funcionamento das editoras, analisa o mercado editorial e dá dicas de marketing. "A capa é o que faz vender dentro da livraria; o miolo, fora", ensina.
Leia a íntegra em:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/sinapse/ult1063u784.shtml
Folha de São Paulo
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