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Quinta-Feira , 01 de Maio de 2025
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A sofrida participação feminina nas letras


Publicado pela revista Problemas Brasileiros março/abril

Em 1928 a escritora inglesa Virginia Woolf recebeu um honroso convite: deveria fazer uma palestra sobre a mulher na literatura inglesa, em uma das mais prestigiosas e tradicionais universidades britânicas, Cambridge. Uma escritora comum abriria uma história da literatura inglesa e dela extrairia algumas figuras de antecessoras suas, como Jane Austen e George Eliot, e com pouco trabalho garantiria o brilho de sua palestra, empenhando-se em demonstrar que, "afinal de contas, estivemos sempre por aí (só que ninguém reparou)".
Seria a sua mais uma dessas patéticas exposições que os representantes das diversas minorias costumam fazer para assegurar sua "presença" no quadro – que nunca necessitou de demonstrações desse tipo – da sociedade tradicional, masculina, branca, bem-nascida, cristã, heterossexual. A audiência ouviria polidamente, aplaudiria a "brilhante conferencista", que receberia um ramo de flores – e todos passariam ao salão de honra do famoso templo do saber para tomar o chá das cinco. Como se sabe, no Brasil tudo acaba em pizza, enquanto na Inglaterra tudo acaba em chá.
Mas a senhora Woolf decidiu que já tomara, nos seus 46 anos de vida, uma quantidade suficiente de chá com bolinhos. Fez uma reflexão profunda e original sobre o que tinha sido (ou não sido) a "presença" da mulher na literatura de seu país; sobre as circunstâncias que cercaram, e cercearam, através do tempo, a expressão da escritura feminina; sobre a contradição, a hipocrisia do mundo da cultura essencialmente machista – a começar pelas próprias universidades, cujo acesso fora sempre vedado a mulheres. Segundo Virginia, esse sistema prevalecia até aquela época. Ironizando, ela utiliza o termo Oxbridge, que se refere a Oxford e a Cambridge, para designar uma "universidade muito famosa" em cujo recinto ela própria, como mulher, só poderia entrar se acompanhada por um membro da faculdade; e em cuja biblioteca não teria podido pesquisar, pois também era "for gentlemen only".
Transformada em livro, A Room of One´s Own (editado em português com o título Um Teto Todo Seu pela Nova Fronteira), a famosa conferência de Virginia e outros escritos seus sobre o tema, reunidos na obra Three Guineas (1938), são considerados clássicos do gênero, fundamentais para o estudo sobre a literatura e a condição feminina. Não temos informação sobre a repercussão da palestra da genial inglesa em Cambridge, mas não é difícil imaginar a debandada dos guardiães do establishment, em defesa de seus privilégios. Um detalhe atual dá uma idéia: ainda hoje a mais sisuda e reputada das enciclopédias, a famosíssima Britannica, consagrando Virginia Woolf pela "sua contribuição original à forma do romance" e "como uma das mais proeminentes críticas de seu tempo", não somente ignora sua posição feminista como simplesmente omite de sua bibliografia justamente os dois livros citados.
Virginia torna-se assim, também ela, vítima pelo menos parcial da própria supressão que denunciara.
Entre nós
Enquanto isso, do outro lado do mundo... e em época bem distante, um grupo de pesquisadoras da área de literatura brasileira de vários pontos do país, chefiadas pelas professoras doutoras Rita Terezinha Schmidt, Eliane Vasconcellos e Zahidé Lupinacci Muzart, veio realizando nos últimos 15 anos um trabalho de resgate de todas as escritoras do século 19 que foram completamente suprimidas nas histórias da literatura e em muitos dicionários. O livro que registra essa pesquisa, Escritoras Brasileiras do Século XIX, organizado por Zahidé Muzart e lançado em 2000 pela Editora Mulheres, de Florianópolis, em parceria com a Edunisc, tem quase mil páginas e representa um verdadeiro trabalho de arqueologia literária – no qual se desencavaram até agora nada menos do que 52 autoras que, segundo a organizadora, "escreveram muito e abordaram todos os gêneros: das cartas e diários, dos álbuns e cadernos aos romances, poemas, crônicas e contos, dramas e comédias, teatro de revista, operetas, ensaios e crítica literária".
Veja a íntegra da matéria em:

http://www.sescsp.org.br/sesc/revistas/pb/artigo.cfm?Edicao_Id=182&Artigo_ID=2754

Problemas Brasileiros

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