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Publicado no caderno Sinapse na Folha de S.Paulo 27/04/2004 |
Foi-se o tempo em que sexo e violência ocupavam o primeiro lugar entre as preocupações dos educadores a respeito da relação das crianças e dos adolescentes com a mídia. Hoje a principal questão é bem mais ampla: o relacionamento dos jovens com o que recebem dos meios de comunicação, um dos temas tratados na 4ª Cúpula Mundial de Mídia para Crianças e Adolescentes, que ocorreu na semana passada, no Rio de Janeiro.
"No passado, o fluxo de informação era mais facilmente controlado por editores, padres, pais e políticos. Com a distribuição digital, as pessoas conseguem passar por esses 'guardiões' e acessar diretamente a informação. Ao mesmo tempo que isso é bom, as crianças ainda precisam de orientação para usá-la estratégica e criativamente." A afirmação, da professora-assistente da Universidade de Austin, no Texas, Kathleen Tyner, que desenvolve programas de mídia e educação nos EUA, reflete a preocupação crescente entre educadores de como educar para a mídia.
Para trabalhar essa nova formação com estudantes de ensinos fundamental e médio, cada vez mais os educadores têm adotado a chamada educomunicação, que consiste, em poucas palavras, em fazer o próprio aluno produzir comunicação —aprender a fazer vídeos, jornais, programas de rádio, sites na internet—, para que ele possa, aprendendo como se faz, ser capaz de analisar e interagir de outra forma com o que vê, lê e ouve. "Sendo capaz de produzir, o aluno será capaz de ter uma visão mais crítica do que recebe", diz Ismar Oliveira Soares, coordenador do NCE (Núcleo de Comunicação e Educação), da USP.
"É preciso reconhecer o impacto negativo que o excesso de violência e sexo na mídia exerce sobre crianças e jovens, sem dúvida. Mas, mais que isso, é preciso que a criança possa desenvolver autonomia e espírito crítico e passe a dialogar com o que a mídia tem de bom", continua.
Soares coordena o projeto Educom.radio, uma parceria do NCE com a Secretaria de Educação da Prefeitura de São Paulo, que atende a 450 escolas, promovendo workshops e oficinas para ensinar técnicas de produção de rádio a professores e alunos. Segundo Oliveira, no entanto, o objetivo de projetos como esse não é fazer do aluno um "pseudojornalista ou aprendiz-apresentador". "O objetivo é ensiná-lo a analisar sob os pontos de vista do poder econômico e ético, que produz os meios de comunicação, das 'montagens do discurso e da cena', que constroem as mensagens, e da audiência, que lhes dá sentido."
O projeto do NCE tem servido de modelo para outras iniciativas, mas há também propostas um pouco mais conservadoras, que defendem que a educação para a mídia se torne uma disciplina regular no currículo das escolas, como matemática ou geografia.
Essa é a idéia do pesquisador italiano Roberto Giannatelli, da Associação Italiana de Media Education. Participante do painel "Educação para a mídia - Passaporte para a cidadania na sociedade da informação", na cúpula mundial, ele elaborou uma proposta de implementação da disciplina "Educação para a mídia nas escolas", que ainda não foi aprovada pelo governo italiano.
"O governo só está interessado em fazer com que o aluno aprenda sobre a internet", diz. "A mídia como um todo é um elemento importante para entendermos nosso tempo. Os educadores para a mídia querem mostrar que esse meio deve ser visto como uma grande oportunidade de criar um senso de democracia, de promover a justiça social", diz Giannatelli. Para ele, ensinar nas escolas a lidar com a mídia é uma maneira de "capacitar o aluno a exercer sua cidadania". Na proposta, o programa de educação para a mídia, de três anos, inclui história da comunicação, semiótica, linguagem televisiva e análise de textos jornalísticos.
Leia a matéria na íntegra em:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/sinapse/ult1063u809.shtml
Folha de São Paulo
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