Hip hop na rua e nos projetos |
|
|
Publicado pela Revista do Terceiro Setor 06/05/2004 |
A cena não é difícil de ser vista nas grandes cidades, principalmente em suas áreas pobres: ao som de raps, grupos de jovens dançam break, pintam muros com suas latas de spray e fazem rimas com batidas ao fundo. Os temas dos grafites – como são chamadas as pinturas – e das músicas – os raps – quase sempre abordam o cotidiano de quem ainda tem pouca idade, é negro e mora em regiões por muitos anos esquecidas pelo poder público. São comuns desenhos sobre a repressão policial e letras sobre como é difícil arrumar um emprego e fácil ser discriminado por sua raça. O relato da violência nas periferias está presente em muitas canções.
Por falar da realidade vivida por um enorme número de pessoas, o hip hop, nome da cultura que engloba todos esses elementos, já se tornou um fenômeno. Vende milhares de discos, mobiliza a juventude, colore o cinza das cidades e produz moda sem esquecer as discussões políticas. O que antes era considerado coisa de marginal por boa parte da sociedade é hoje um dos mais úteis instrumentos de inclusão social, utilizado como ferramenta de diversos projetos e com forte influência na juventude. Tanto que foi reconhecido até pelo governo federal como fator importante das políticas públicas voltadas para essa parcela da sociedade (veja box ao lado). Mas agora encara o desafio de se manter fiel às raízes para não perder a vocação política devido ao crescimento.
A origem do hip hop está na década de 60, época em que o movimento de luta pelos direitos civis nos EUA se fortaleceu e valorizou a cultura negra. Nessa época começam a surgir os mestres de cerimônia (MCs), que cantam as músicas; os disc-jockeys, cuja função é colocar os discos na vitrola e, às vezes, “misturar” as músicas; os grafiteiros e os dançarinos de break. A dança, aliás, surgiu como protesto contra a guerra do Vietnã, pois imitava os movimentos dos feridos em combate. As coreografias são “quebradas”, daí o nome. O termo “hip hop”, também vem dos movimentos: hip quer dizer quadril e hop, salto.
Poesia, música, dança e artes plásticas, portanto, são os quatro elementos do hip hop.
Por muito tempo o estilo ficou segregado nos guetos negros norte-americanos, mas tornou-se rapidamente um canal de expressão da juventude, por causa das letras dos raps. “Não me empurre, pois estou perto do limite. Estou tentando não perder a cabeça. Às vezes isso é como a selva e me faz imaginar como não afundar”, dizia o norte-americano Grandmaster Flash no refrão de “The Message”. A música foi lançada em 1983 e expressava a situação dos jovens negros nas ruas de Nova Iorque naquela época.
Organizados em gangues, muitos resolviam seus problemas com violência, mas a solução começou a ser alcançada também por meio da dança. Em vez de trocarem socos e tiros, faziam disputas de break durante festas animadas com caixas de som colocadas na rua. Os que levavam jeito para cantar se desafiavam na elaboração de músicas e provocavam-se ao mesmo tempo em que tentavam passar uma mensagem para a platéia. A politização daquele tempo permanece até hoje como princípio dessa cultura.
Foi nessa época que o estilo chegou ao Brasil. O centro de São Paulo era o principal pólo de hip hop do país, cuja imagem para a polícia não era das melhores. Lá foram formadas as primeiras rodas de break, onde jovens de diversas partes da cidade se reuniam para dançar ao ritmo das músicas importadas.
“Começamos na Praça Ramos de Azevedo, mas mudamos nosso ponto de encontro algumas vezes, por causa da repressão”, lembra Carlos Alberto de Souza, o Kall, integrante do movimento hip hop desde o começo dos anos 80 e hoje MC [Mestre de Cerimônias] do grupo Conclusão. O local que acabou se tornando mais famoso foi o Largo São Bento, também no Centro. “Era lá que todos se informavam e trocavam idéias. Quem sabia inglês traduzia as letras para os outros, e assim começavam as discussões”, diz Kall, que lembra a importância dos bailes de música negra, os bailes blacks, na formação musical desses pioneiros. Discos também foram trocados e surgiram os primeiros campeonatos de dança de rua.
Veja a ínt
http://arruda.rits.org.br/notitia/servlet/newstorm.notitia.apresentacao.ServletDeSecao?codigoDaSecao=3&dataDoJornal=atual
Revista do Terceiro Setor
Para mais informações clique em AJUDA no menu.
|