China: o dragão já acordou |
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Publicado pela revista Carta Capital 24/05/2004 |
Mesmo para os que julgam irrelevante tudo o que aconteceu antes dos anos 90, é importante lembrar que a China é a mais antiga nação do mundo. Sua cultura, cada vez mais viva, só é menos antiga que as civilizações desaparecidas da Suméria e do Egito faraônico, cujas línguas e cultura só conhecemos pela arqueologia.
A atual escrita ideográfica chinesa, cujos precursores foram encontrados em peças de cerâmica com 4,8 mil anos, já era usada pela segunda dinastia, a Shang (1600 a.C. a 1046 a.C.), contemporânea de Tutmósis e Ramsés. Sob a dinastia Zhou (1046 a.C. a 221 a.C.), o país começou a chamar-se Zhong Guo, “Império do Meio” (antes era menos modesto: Tian Xia, “Tudo Sob o Céu”), e a consultar o I Ching, posto por escrito bem antes que Isaías começasse a advertir os reis de Israel ou Homero a cantar a ira de Aquiles.
Nos séculos VI a.C. e V a.C., enquanto a Torá recebia sua forma definitiva dos retornados do exílio na Babilônia, Lao-Tsé e Confúcio criaram as bases da filosofia chinesa e de sua peculiar espiritualidade pragmática e materialista. Suas obras foram preservadas e continuam influentes, ao passo que das de seus coetâneos Tales de Mileto, Pitágoras, Heráclito e Parmênides só restam fragmentos.
Antes que Milcíades derrotasse os persas em Maratona, o general Sun Tzu havia redigido A Arte da Guerra. Tratado de estratégia aplicado com sucesso pelos maoístas, é hoje a coqueluche de militares e executivos em todo o mundo.
Antes que o Japão saísse da pré-história, os chineses haviam inventado o Tai Chi Chuan e as artes marciais – e também o sistema decimal, a acupuntura, o arado e o ferro fundido. Descobriram a circulação do sangue, 18 séculos antes de William Harvey.
O Estado unificado e a Grande Muralha que o simboliza foram construídos pelo primeiro imperador, Qin Shi (221 a.C. a 210 a.C.), quando Aníbal e Cipião lutavam pelo controle do Mediterrâneo. Do nome de sua dinastia (pronunciado “tchin”) vem o nome com que o país e o povo são conhecidos no Ocidente.
Já os chineses preferem chamar-se de povo de Han, a dinastia cujos súditos, de 206 a.C. a 220 d.C, inventaram a bússola, o sismógrafo, o alto-forno, o carrinho de mão, o papel e a tinta nanquim. Ou de Tang, que governou os inventores do álcool, da pólvora, dos fósforos, dos foguetes, do papel-moeda e da imprensa entre 618 e 907 d.C.
O mais antigo livro impresso já descoberto – o texto budista O Sutra do Diamante – foi editado em chinês, para distribuição gratuita, por um certo Wang Jie, em 11 de maio de 868, quase 600 anos antes da Bíblia de Gutenberg. O budismo – talvez a maior contribuição estrangeira à cultura da China antiga – havia sido importado da Índia em 495 d.C. pelo templo Shaolin, que criou o kung fu e a escola de meditação Chan (exportada ao Japão como o Zen).
Antes que qualquer das atuais nações européias emergisse das ruínas do Império Romano, a China já havia definido seu atual território (salvo pela Mandchúria, Taiwan e Tibete, anexados pela dinastia Qing nos séculos XVII e XVIII). Era o maior e mais avançado país do mundo e, por duas vezes, chegou perto de dominá-lo.
Entre 1279 e 1368, a dinastia Yuan embasbacou Marco Polo ao pôr Kublai Khan à cabeça de um império que incluía a atual Rússia, a Ásia Central, o Irã, a Síria e o Iraque. Em 1419, o navegador Zheng He explorou a Indonésia, a Índia, a África e o Mar Vermelho com uma frota de 317 navios, cuja capitânea era trinta vezes maior que a Santa Maria de Colombo e 12 vezes maior que a São Gabriel de Vasco da Gama e Cabral.
Tal solidez e densidade histórica não têm comparação. Apesar de guerras civis não terem sido raras ao longo dos milênios da história chinesa, os laços que unem o país são antiqüíssimos. Que ninguém perca dinheiro apostando que a China vai se desintegrar como a União Soviética, mesmo que o atual regime desmorone.
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Carta Capital
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