Medo é tema de congresso internacional em SP |
|
|
Publicado pelo jornal Folha de S.Paulo 24/08/2004 |
(Luciana Araújo)
Começa hoje, em São Paulo, o Congresso Internacional do Medo, no teatro da Aliança Francesa. Idealizado pelo filósofo e jornalista Adauto Novaes, o encontro homônimo ao poema de Carlos Drummond de Andrade, publicado em 1940, em "Sentimento do Mundo", reúne 14 intelectuais estrangeiros e do Brasil para falar da relação entre medo e política.
A questão do temor é abordada neste ciclo de conferências como um desdobramento do anterior, "Civilização e Barbárie", realizado em 2002. Se a idéia de barbárie ajuda a compreender o momento atual, após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, ela ainda não o define.
"Afinal, a quantas anda a civilização ocidental?", pergunta Novaes, e é partir desse questionamento que ele chega ao tema do encontro. "Não há nem uma área sequer do conhecimento que não esteja passando por um momento de revisão", avalia. "O medo surge porque já não é possível ver a crise e suas dimensões", conclui Novaes, a partir da leitura de textos de Paul Valéry (1871-1945) sobre "a morte da civilização".
A professora de filosofia da Universidade de São Paulo (USP) Marilena Chauí abre a série de palestras, que serão presididas por grandes pensadores contemporâneos: Robert Stam, Étienne Klein, Jean Delumeau, Jacques Rancière, Marcelo Jasmin, Francis Wolff, Maria Isabel Limongi, Nathalie Frogneux, Luiz Alberto Oliveira, Maria Rita Kehl, Abdelwahab Meddeb, Paulo Sérgio Duarte, Jorge Coli e João Luiz Vieira.
"O medo é mediado pela razão. Sem o medo a humanidade não existiria", diz Novaes, pontuando o caráter positivo do sentimento, aspecto que será abordado em conferências como a da psicanalista Maria Rita Kehl e a da professora de antropologia filosófica da Universidade Católica de Louvain (Bélgica) Nathalie Frogneux.
"No entanto presenciamos a passagem do medo para o terror, em que não há mediação possível ou qualquer noção de causa e efeito", continua. Sob essa perspectiva, Robert Stam, professor da Universidade de Nova York, falará do terror usado como instrumento político pelo governo dos Estados Unidos e pela extrema direita daquele país.
A diferenciação entre terror e medo fica por conta da análise de Jacques Rancière, professor no departamento de filosofia da Universidade de Paris 8. Segundo ele, o terror é uma nova configuração da clássica relação entre paixão e razão. "Ele faz os perigos do mundo indiscerníveis da angústia íntima de cada um. Institui os governos protetores, onipotentes e incapazes, donos de uma segurança que ameaça a tudo e a nada."
Em sua conferência, Jean Delumeau, professor do Collège de France, traça o percurso histórico do medo. Se para as civilizações anteriores a natureza era a principal fonte de preocupações, atualmente o homem parece ser o maior perigo para a humanidade. "A questão "quem tem medo de quem?", aplicada aos séculos passados, conduz ao desenho de uma linha de evolução de ontem a hoje conforme os perigos a afrontar."
Deve-se ter medo da ciência? Essa é a pergunta que Étienne Klein, o físico francês, doutor em filosofia e integrante do Comissariado de Pesquisa Atômica, busca responder. "Os novos poderes da ciência açoitam nossa imaginação, suscitando ao mesmo tempo interrogações inéditas, associadas aos novos temores."
Na abertura do congresso será lançado o livro "Civilização e Barbárie" (Companhia das Letras, 342 págs.; R$ 52), organizado por Adauto Novaes. A obra reúne textos originalmente produzidos para o congresso passado. Entre os autores, estão o filósofo Newton Bignotto, o atual presidente da Radiobrás Eugênio Bucci, o cientista político Gabriel Cohn e o mestre em sociologia e colunista da Folha Marcelo Coelho.
Veja a íntegra em:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u46919.shtml
Folha de S.Paulo
Para mais informações clique em AJUDA no menu.
|