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Quarto de Badulaques LVIII


Artigo de Rubem Alves publicado pelo site Aprendiz 03/09/2004

"Moça com brinco de pérolas" é um filme que está passando no cine Jaraguá. É sobre uma tela do pintor holandês Vermeer, do século XVII. Não tem mistério, mortes, suspense, ação rápida. Tudo é devagar. A vida é devagar. Depressa, só a morte. É uma aprendizagem de ver. Trata-se de uma estória provocada pela visão dessa tela singela, o rosto de uma jovem com um brinco de pérolas. Como disse Bachelard "o que se vê não pode se comparar ao que se imagina."
Vale, numa tela, a imaginação que ela provoca. Por isso muitas pessoas de vista perfeita nunca viram realmente um quadro, embora o tenham visto. Falta-lhes imaginação. O autor da estória viu a tela "Moça com brinco de pérolas" e sua imaginação voou. Se me der na telha vou publicar de novo a estória que inventei ao meditar sobre uma outra tela de Vermeer. "Mulher lendo uma carta". As telas de Vermeer põem paz ma minha alma. Elas me reconduzem a um mundo de intimidade tranqüila, de sombra e luz, de cores quentes, que não existe mais. É nesse mundo que mora a minha alma.
Acostumados à ação rápida é altamente provável que os jovens não consigam ficar até o fim. Eles vivem num mundo que não é o meu. Não são culpados. Fico triste por não poder compartilhar com eles o mundo da minha alma. Sugestão: Vá a uma livraria boa e compre um livro com telas de Vermeer da coleção "Taschen". É barato. Quem sabe seu filho ou filha vai se encantar...
***
As Olimpíadas são um evento assombroso. Começa com aquela festa linda, comovente, festa de fraternidade e paz. Norte-americanos e iraquianos desfilaram no mesmo desfile sem que o Bush tentasse matar os atletas do Iraque, como terroristas disfarçados. Ele estava jogando golfe. O grande símbolo: uma oliveira cheia de folhas!
Dizem os poemas sagrados que a pomba que Noé soltou ao final do dilúvio voltou com um ramo de oliveira no bico. Que bom seria se aquela oliveira anunciasse o fim do dilúvio de loucuras bélicas que está destruindo o mundo! Algumas dessas festas ficam inesquecíveis. Lembro-me do ursinho que marcou as olimpíadas de Moscou. No encerramento o ursinho chorou: lágrimas escorriam pelo seu rosto. Sei muito bem que urso não tem rosto, urso tem é focinho, mas seria feio dizer "lágrimas escorriam pelo seu focinho". Do jeito como as coisas vão, em breve se dirá que os bichos têm rosto e os homens têm focinho.
***
Aí chega o primeiro dia. Vai-se a fraternidade. Agora é briga. Briga pelo pódio. O pódio é motivo de briga. Todo pódio é motivo de briga. Nas Olimpíadas não há lugar para fraternidade porque fraternidade significa todo mundo junto brincando de roda e nas Olimpíadas não há cantigas de roda. No pódio só cabem três. Cada atleta quer mesmo é que o outro se dane. Ah! A suprema felicidade do velocista dos 100 metros quando sabe que o recordista baixou hospital acometido de uma súbita cólica renal, na véspera das finais. E as ginastas rezam, enquanto as adversárias executam os seus números: "Tomara que ela escorregue..."
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Havia na UNICAMP um professor visitante na Faculdade de Educação Física, Manoel Sérgio, que era muito contra ao atletismo. Ele perguntava: "Você conhece algum atleta longevo?" E concluía: "Quem vive muito são essas velhinhas que se encontram ao fim da tarde para tomar chá com bolo..." Já viu cavalo treinando os 1.500 metros? Só quando dominados por homens. As Olimpíadas não são uma manifestação de saúde. São uma exaltação do desejo de ser o maior. Prova disso são os doppings. Os atletas sabem que a coisa faz mal à saúde. Pode matar. Mas uma morte prematura bem vale um lugar no pódio!
Aquela máquina de correr, uma negra norte-americana, me esqueci de nome dela, só músculos, morreu subitamente de um ataque cardíaco. Assim não pensem que os atletas têm boa saúde, que praticam hábitos saudáveis de vida. Lembram-se da corredora suíça, ao final da maratona? Era a imagem de um corpo torturado pela dor. Penso nas nadadoras. Elas me assustam. Não se parecem mulheres. Aqueles ombros enormes! Acho que meus braços não conseguiriam abraçar uma delas. E nem eu quereria.
Veja a íntegra em:

http://aprendiz.uol.com.br/content.view.action?uuid=c57ade950af47010011a01ddb9984248

Aprendiz

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