Alfabetização: um sonho possível |
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Artigo de Gabriel Chalita no Jornal da Tarde 09/09/2004 |
No conto “Felicidade Clandestina”, Clarice Lispector nos apresenta uma protagonista tímida e sonhadora. Uma menina cujo sofrimento é não poder desfrutar da leitura diária de inúmeros livros. Seu sonho dourado, entretanto, é o clássico Reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato. O livro custava caro e uma garota invejosa e perversa que prometera emprestá-lo passa dias humilhando-a e postergando a entrega da obra. Em seu coração sensível, a menina ávida por livros nutria um sentimento de ausência, de carência de algo que se deseja muito e não se pode ter. Afinal, ela já sabia que o mundo fica melhor por meio da leitura e das viagens que ela proporciona. O fato é que esse conto parece feito sob medida para esta semana, em que foi comemorado o Dia Internacional da Alfabetização (8 de setembro). Um momento que nos convida a refletir sobre a importância da leitura e da escrita no processo de aquisição da cidadania e no desenvolvimento integral do ser.
Infelizmente, no Brasil, ainda há 15 milhões de pessoas que não podem, sequer, sentir o mesmo desespero da personagem criada por Clarice Lispector. Na verdade, esses milhões de brasileiros vivem, cotidianamente, a angústia maior de não conseguir decodificar as letras. Em plena Era da Informação e do Conhecimento, eles não têm autonomia para realizar coisas simples mas essenciais à vida prática. Dependem dos outros para entender o sentido das placas, letreiros, cartazes. Não podem ir às compras sem o auxílio de alguém que lhes informe preço, nome do produto, sua utilidade.
A boa notícia é que esse quadro, felizmente, está mudando. Basta observar os numerosos programas, projetos e ações visando à erradicação do analfabetismo no País. Iniciativas implementadas pelos governos das 3 esferas, empresas do setor privado, instituições não-governamentais e entidades sociais que, juntas, têm oferecido a milhões de pessoas, a possibilidade de um futuro digno. É com alegria que observamos, por exemplo, o verdadeiro exército de trabalhadores voluntários que luta para abolir o analfabetismo. São jovens universitários, aposentados, profissionais liberais, lideranças comunitárias e religiosas que dedicam parte de seu tempo para ensinar pessoas a ler e a escrever.
Nesse contexto, o Estado de São Paulo tem procurado alternativas capazes de contribuir para a solução desse problema. Só no último ano, por meio do Programa de Alfabetização e Inclusão – PAI – criado pela Secretaria de Estado da Educação e já inserido no Programa Escola da Família, foram firmadas parcerias com 117 instituições de ensino e quatro organizações não-governamentais. Essa união de esforços foi essencial para propiciar a alfabetização de cerca de 150 mil aprendizes. Além disso, temos o Programa de Educação para Jovens e Adultos (EJA), praticado em 2.393 escolas da rede e se destina aos estudantes do Ensino Supletivo (Fundamental e Médio). O EJA atendeu, apenas este ano, em torno de 700 mil pessoas.
Sabemos das dificuldades do caminho, mas elas não serão empecilho para que prossigamos dando nossa contribuição para superar esse desafio. Temos esperança de que, a cada dia, centenas de brasileiros passem a ver o mundo de uma maneira mais crítica e consciente. Uma consciência que advém da leitura e da escrita – instrumentos que nos levam a pensar, a refletir, a encontrar caminhos para nossa evolução pessoal e profissional.
Que esta semana, cujo significado transcende idiomas, linguagens e culturas diversas seja um grande convite. Um convite para que compreendamos a urgência de assegurar a alfabetização para todas as pessoas que ainda careçam dela. E, principalmente: que essa “Felicidade” vivenciada pela personagem de Clarice Lispector se expanda, deixe de ser “clandestina” e possa+ ser, o quanto antes, um direito de todos.
http://www.educacao.sp.gov.br/artigo_sec/i_palavra_sec_2004_09_10.asp
Secretaria de Estado da Educação
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