Novas razões para cuidar da casa |
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Publicado pelo caderno Equilíbrio, da Folha de S.Paulo 30/09/2004 |
(Marcos Dávila)
"A casa de um homem é seu castelo", diz o provérbio. Outro reforça: "Boa romaria faz quem em casa fica em paz". Ainda temos: "Antes de iniciar o trabalho de andar o mundo, dá três voltas na sua casa". Bons conselhos para ficar em casa (e zelar bem por ela) não faltam, mas a batalha diária pela sobrevivência acaba desviando a atenção de uma boa fonte de bem-estar ali guardada: os afazeres domésticos.
Tarefas prosaicas como lavar a louça, varrer o chão, passar a roupa, arrumar armários e gavetas, cozinhar, decorar e dispor os móveis na casa podem promover uma "faxina" mental e elevar a auto-estima, segundo psicólogos, psicanalistas e aqueles que não têm medo do balde e do esfregão.
Mais do que isso: aprender desde cedo os meandros da manutenção da ordem doméstica ajuda a desenvolver noções de responsabilidade e fortalecer a autoconfiança das crianças. E, com a correria do dia-a-dia, é cada vez mais evidente a necessidade de dividir as tarefas, para que não fique tudo nas costas de quem, historicamente, sempre respondeu pelas tarefas de casa: as mulheres.
Ao mesmo tempo em que manter uma empregada em casa todos os dias está mais difícil (leia quadro à página 8), quem antes se ocupava de cuidar do lar --a mulher-- está agora na rua, ocupando seu lugar no competitivo mercado de trabalho. Para quem sobra o serviço, então? Para todos.
Sinal desse novo filão, ou dessa redescoberta do lar e das tarefas domésticas, pode ser encontrado num lançamento editorial recente. Sem cair no tradicional manual de prendas domésticas e longe de ser antifeminista, a jornalista Chris Campos escreveu "Casa da Chris", com dicas práticas sobre como transformar afazeres do lar numa atividade até divertida, desempenhada por qualquer um, sem papéis relacionados ao sexo ou à idade ou à função na família. Realizar as tarefas da casa entendido como sinônimo de cuidar do espaço íntimo.
Mais curioso é que o livro foi lançado pela editora Record, a mesma da clássica série cuja primeira edição remonta aos anos 70 --"Sebastiana Quebra Galho", espécie de bíblia da dona-de-casa escrita por Nenzinha Machado Salles (1921-2000), na 36ª edição.
"A idéia é resgatar esse lado lúdico. Por que na hora que a pessoa tem sua casa e pode fazer o quiser lá dentro vai chamar um decorador?", diz a autora.
"Se pudesse, eu não saía do meu canto para nada", afirma a estilista Andrea Garcia Martinez, 26, que vai todo sábado de manhã comprar flores. "Chegar em casa e sentir um cheiro gostoso, que te conforta, é um investimento em qualidade de vida", afirma Andrea, que ainda tem o cuidado de perfumar a cama com água de lavanda. Mas, além dos mimos, na hora de fazer uma arrumação pesada, ela veste luvas e vai à luta: "Nessas horas, o mais importante é escutar uma música legal. Não encaro como trabalho, mas como uma terapia. Me relaxa", diz.
Trabalho para todos
"Brincar de casinha de verdade", como diz Chris Campos, não é só um passatempo para "meninas". No ano passado, foi fundada na província de Lucca, na Itália, a Associação dos Homens Donos-de-Casa (Associazione Degli Uomini Casalinghi), que já conta com mais de 4.000 integrantes. No site da associação (www.uominicasalinghi.it), há vários manifestos pelo direito do homem de ser um dono-de-casa e até notas sobre eletrodomésticos e produtos de limpeza.
"A casa se dá muito bem comigo. Brigamos raramente. Possuo o que se pode chamar de o dom da 'estocástica', ou seja, a capacidade de vislumbrar a melhor maneira de guardar as coisas", afirma o escritor Juva Batella, 33, que escreveu o livro "Confissões de um Pai Doméstico (editora Planeta), em que revela sua experiência como "comandante-em-chefe e líder supremo do território doméstico". "Gosto bastante de arrumar uma cozinha, por exemplo, lavar a louça e alocar móveis. Gosto mais ainda de arrumar uma biblioteca", afirma Batella.
Veja a íntegra em:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/equilibrio/noticias/ult263u3770.shtml
Folha de S.Paulo
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