Descoberto gene que define disposição dos órgãos |
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Publicado pela Folha Online 13/10/2004 |
Pesquisadores do IGC (Instituto Gulbenkian de Ciência), em Portugal, descobriram um gene essencial na disposição dos órgãos no embrião, como a localização do coração sempre do lado esquerdo e do fígado sempre do lado direito, por exemplo.
Cientistas de todo o mundo têm se debruçado sobre processos que fazem com que se quebre a simetria inicial do embrião, levando ao desenvolvimento de assimetrias nos seres vivos.
"Este trabalho vem demonstrar que existe um controle genético responsável por permitir a criação de um lado esquerdo, simplesmente por impedir a ativação das mesmas instruções genéticas do lado direito [do embrião]", diz José António Belo, da Universidade do Algarve, que coordenou a pesquisa.
Segundo ele, a nova descoberta abre caminho ao estudo de uma doença genética humana (situs inversus), que consiste exatamente na disposição inversa dos órgãos.
Gene da "lateralidade"
A equipe do IGC descreveu pela primeira vez o papel do gene Cerl-2 na disposição assimétrica --com diferenças entre o lado direito e o esquerdo-- dos órgãos no embrião. Para isso, foram criados em laboratório ratos geneticamente modificados, em que este gene foi desativado.
Quando nasceram, os animais apresentavam várias alterações morfológicas, como pulmões com dois lóbulos idênticos, inversão esquerda-direita do coração, dos pulmões e de alguns órgãos abdominais, como estômago, duodeno e rins.
Os cientistas do IGC constataram que o gene Cerl-2, "tem um papel funcional ao inibir um outro gene, o Nodal", ativado apenas no lado esquerdo do embrião, e que dá origem a "uma cascata de genes que são seletivamente ativados desse lado", explicou António Belo.
Lado certo
"Trabalhos anteriores tinham demonstrado que o embrião consegue ativar o gene Nodal, ativado apenas no lado esquerdo, também no lado direito. Faltava perceber o que impedia essa ativação", continuou. "O gene que identificamos, o Cerl-2, expresso do lado direito, é o responsável por inibir a atividade do Nodal, que está na base dessa cadeia de reações.".
Na ausência do Cerl-2, o Nodal passa a ser ativado também no lado direito, ou apenas neste. É como se o embrião ficasse "sem saber" qual é o lado direito ou esquerdo do corpo. Disso decorrem as alterações na disposição de órgãos dos ratos verificadas pela equipe do IGC.
O trabalho foi publicado na edição de outubro da revista científica norte-americana "Genes and Development".
http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u12542.shtml
Folha Online
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