Poluição começa a ser levada em conta na saúde |
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Publicado pelo caderno Equilíbrio, da Folha de S.Paulo 28/10/2004 |
(Rodrigo Gerhardt)
Enquanto ecologistas discutem as conseqüências das transformações do planeta para seu equilíbrio ambiental, uma outra categoria de especialistas ainda pouco conhecida afirma que não é preciso esperar as geleiras derreterem pelo efeito estufa para que a população seja afetada. Segundo os médicos ambientais, o impacto do ambiente urbano na saúde é maior e mais imediato.
Problemas como esse fazem parte dos novos desafios da saúde ambiental, ciência que propõe um viés ecológico para a medicina. Até então restrita às questões de saneamento como objeto de estudo, ela vem mudando seu foco para o impacto na saúde da população e, para isso, já considera fatores como mudanças climáticas, ocupação do espaço e poluição. Dentro desse conceito, o estilo de vida, as condições sócio-econômicas e os ambientes urbano e doméstico também são levados em conta.
Quem trabalha sob condições adversas, por exemplo, está mais suscetível aos fatores de risco. É o caso do "marronzinho" --como são chamados os agentes de trânsito de São Paulo-- Isaías Viana, 41. O resultado das horas diárias de exposição à fumaça é percebido por ele mesmo na ardência que sente nos olhos e na cor da roupa, que fica mais escura no final de cada dia. "Mas eu até já me acostumei com a poluição", afirma Viana, que é agente há 13 anos.
Em uma pesquisa feita com 50 controladores de tráfego, não fumantes e sem doenças prévias --Viana entre eles--, da Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo (CET), o pneumologista do Instituto do Coração Ubiratan de Paula Santos constatou que todos apresentavam elevação da pressão arterial e variação da freqüência cardíaca nos dias de maior poluição atmosférica. A longo prazo, segundo o estudo, os agentes estão sujeitos a infarto do miocardio e derrame cerebral. Deles, 33% apresentaram condições típicas de fumantes -redução da capacidade pulmonar e inflamação freqüente dos brônquios.
Falsos oásis
Quem imagina que esses efeitos atingem apenas aqueles que passam horas à beira de avenidas movimentadas está enganado. Outra pesquisa, feita em 2002 com corredores habituais do parque do Ibirapuera, utilizou dados da estação local de medição dos poluentes no ar da Cetesb para mostrar que pessoas ativas e com a saúde em dia também sofrem dos mesmos sintomas detectados na pesquisa com os agentes da CET --diminuição da capacidade pulmonar, alteração da freqüência cardíaca e elevação da pressão sangüínea.
Por três anos, o empresário Adriano Corrêa, 37, correu diariamente no parque do Ibirapuera. A presença do verde e a distância do tráfego transmitiam segurança para a prática de exercícios. A tranqüilidade só foi quebrada após descobrir que, a longo prazo, ele também pode desenvolver doenças respiratórias e cardiovasculares simplesmente pelas condições do ar no local.
"Fiquei desapontado por não haver nenhuma orientação dentro do parque. Até então, nunca tinha ouvido falar dos efeitos do ozônio. Muitos freqüentadores aproveitam o almoço para ir ao Ibirapuera, horário em que a concentração desse poluente é maior", diz Corrêa, que passou a utilizar mais a esteira em casa e a alternar os roteiros da corrida.
"Não há dor, mal-estar ou qualquer outro sintoma imediato. Os efeitos da poluição não são percebidos, mas se acumulam no organismo. No futuro, podem ocasionar doenças que as pessoas não associarão ao ambiente ou anular os benefícios adquiridos com o exercício físico", explica o pesquisador da Faculdade de Saúde Pública da USP Ibsen Wilde Dalla Júnior.
Da mesma forma, a maioria dos que buscam o parque Trianon como um refúgio do trânsito caótico não têm idéia de que o "pulmão da Paulista", como é apelidado o parque da avenida mais famosa de São Paulo, está localizado em uma das regiões de maior emissão de radiação eletromagnética do país. Lá, também não é possível escapar da poluição sonora.
Leia a íntegra em:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/equilibrio/noticias/ult263u3798.shtml
Folha de S.Paulo
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