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Um documentário para ser visto e ouvido


Artigo de Ricardo Calil no site NoMínimo 29.10.2004

A frase que melhor define o documentário “Língua – Vidas em Português”, que estréia hoje no Rio de Janeiro e dia 5 em São Paulo e outras capitais, é dita no filme pelo escritor moçambicano Mia Couto: “No fundo, não se está a viajar por lugares, mas sim por pessoas”.

O documentário de Victor Lopes percorre cinco países – Brasil, Portugal, Moçambique, Índia e Japão – para mostrar como se fala o português ao redor do planeta. Mas o essencial não está nesse deslocamento geográfico, e sim na variedade humana (e lingüística) encontrada ao longo do caminho. O filme está menos interessado em mostrar como o português se espalhou pelo mundo do que em revelar como cada um de seus personagens se relaciona com o idioma.

“Língua” não tem a pretensão de ser uma análise histórica ou sociológica do português. Quer apenas fazer uma série de retratos afetivos de pessoas que amam o idioma, cada uma à sua maneira. Esse objetivo fica claro na frase de divulgação do documentário: “Todos os dias, 200 milhões de pessoas sonham em português. Algumas delas estão neste filme”.

Entre os personagens, há figuras ilustres, como os escritores José Saramago e João Ubaldo Ribeiro, o cantor Martinho da Vila e os integrantes do grupo português Madredeus. E há também desconhecidos, como um pastor evangélico brasileiro, um padeiro e um músico indianos, um desativador de minas moçambicano e assim por diante.

Cada um desses personagens é como um país, com um dialeto próprio originado de uma matriz comum, o idioma dos colonizadores portugueses. A língua falada por um dekassegui paulista no Japão é e não é a mesma do carioca Martinho da Vila. A do rapper moçambicano Dinho parece e não parece com a de seu conterrâneo Mia Couto. Como afirma Saramago no filme, “quase que me apetece dizer que não há propriamente uma língua portuguesa, mas línguas em português”.

O filme vai do geral (a língua portuguesa) para o singular (o uso que cada pessoa faz do idioma). É um movimento parecido com o do documentário “Janela da Alma”, que também abordava um tema bastante abrangente (no caso, o olhar) com um número reduzido de personagens (a sensação de proximidade entre os dois filmes é reforçada pela presença de Saramago em ambos).

Com um universo tão amplo em mãos, o cineasta Victor Lopes poderia ter feito uma sinfonia em seu longa de estréia. Sabiamente, preferiu uma peça de câmara. Como um maestro oculto, soube escolher seus músicos (os personagens) e fazê-los tocar em harmonia (na edição). O tema do filme tem grande ressonância pessoal para o cineasta: ele é um moçambicano de nacionalidade portuguesa, radicado no Brasil há 25 anos.

“Língua” está repleto de diálogos sutis entre os personagens. Um exemplo: Saramago reclama que o vocabulário das pessoas está ficando tão reduzido que em breve o homem irá se declarar à mulher com grunhidos. Corta para o pastor Márcio Freitas, que se contrapõe à tese do escritor usando um vocabulário solene e prolixo, apesar de seu pouco tempo de estudo.

Mais à frente, Dinho também desmente Saramago. Ao falar sobre a gravidez da namorada, ele dá a declaração mais tocante do filme e mostra que não desconhece o poder da metáfora: “Plantei uma árvore, mas não tenho água para regar”.

Outro exemplo: quando Martinho da Vila, diz que “a memória é construída na fala”, sua tese é comprovada pelos indianos de Goa que se agarram nostalgicamente ao passado recusando-se a esquecer o português.

Como em todos os documentários baseados em personagens, o resultado dos depoimentos de “Língua” é desigual: há comentários fascinantes, outros inteligentes e alguns desnecessários. Mas o interesse do filme não está apenas no conteúdo das entrevistas, mas também na riqueza dos sotaques. É um filme para ser ouvido com a mesma atenção com que é visto.

O desafio proposto por “Língua” não era pequeno: abordar o rico e vasto universo da lusofonia com pouco menos de 100 minutos de projeção e pouco mais de 20 personagens.
Veja a íntegra em:

http://nominimo.ibest.com.br/notitia/servlet/newstorm.notitia.presentation.NavigationServlet?publicationCode=1&pageCode=45&textCode=14113&date=currentDate&contentType=html

NoMínimo

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