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Matéria publicada pela Revista Educação ed. nº 90 |
Quando entra na passarela do samba, a passista Elaine Maria Suzart, de 41 anos, sente uma energia explodindo no peito. "O corpo inteiro segue o toque vibrante da bateria e esqueço o resto", relata. Nada mais sobra sob os pés dessa professora de educação infantil na creche da Universidade de São Paulo. É então que ela extravasa qualquer aflição que a incomoda no conturbado dia-a-dia entre escola, trabalho e família. "O samba me põe para cima. De tempos em tempos, preciso me soltar na quadra da escola [Mocidade Alegre, campeã do grupo especial no carnaval de São Paulo (SP) em 2004]."
A vida não é fácil para Elaine. Ela lidera, todos os dias, uma turma de crianças com 3 anos. Trabalha apenas na creche da USP, onde está há 12 anos, mas nem sempre foi assim. Em outros tempos, acumulava atividades em duas escolas. Hoje, corre durante o dia e, às vezes, à noite em cursos voltados a seu aprimoramento profissional. Ao chegar em casa, os dois filhos esperam por ela, assim como uma nova jornada de trabalho doméstico.
Desde os 6 anos, Elaine já desfilava na avenida quando sua escola ainda era um cordão e sua mãe seguia logo adiante como rainha da bateria. Manter o samba sob os pés - assim como o bolero e outras danças de salão que ela pratica com o marido - é a maneira que Elaine descobriu para reduzir o peso das tensões cotidianas. O resultado é uma professora mais animada e criativa em sala de aula, com auto-estima e força capazes de driblar os riscos inerentes à profissão de educador.
Os riscos, aliás, não são poucos, ainda que mal retratados como doenças decorrentes verdadeiramente do trabalho. Assim como Elaine, outros professores têm tentado, com as possibilidades que têm a seu alcance, driblar os problemas de saúde próprios da ocupação. Suas histórias podem servir como exemplo e estímulo a colegas. A revista Educação foi a campo para apresentá-los aqui como uma lição de ânimo. Você os conhecerá ao longo das próximas páginas, porém, sem perder de vista os caminhos árduos que perseguem o trabalhador da educação e comprometem sua qualidade de vida.
Drama de reconhecimento - Sim, é perigoso ser professor. Assim uma educadora de Brasília (DF) qualifica seu ofício de driblar, dia após dia, ora o pânico da violência nas escolas das cidades satélites, ora as dores físicas provocadas por esforços repetitivos. Ela não é a única a vivenciar os problemas de saúde ocupacional que vitimam profissionais da educação pelo Brasil, mas estão fora de dados estatísticos mais amplos.
A dificuldade de se obter informações abrangentes sobre a questão esbarra principalmente numa atividade que é inerentemente cheia de riscos. Ser professor é estar numa roda-viva entre o gozo de fazer parte do aprendizado e, de tanto buscá-lo sob condições adversas de trabalho, ser impedido de continuar em sala de aula. Em muitos casos, o corpo pede simplesmente para parar.
E quando isso acontece, o educador brasileiro enfrenta o drama do reconhecimento. Pesquisa realizada pela Universidade de Brasília (UnB) e divulgada agora com exclusividade pela revista Educação mostra a desigualdade com que o professor é tratado tanto pelo empregador quanto pelo sistema de seguridade social. A importância de esses dados serem trazidos à tona está exatamente em seu ineditismo. Representam uma luz sobre a questão, dada a inexistência de qualquer pesquisa similar nos Ministérios da Educação, da Saúde e do Trabalho e Emprego, que seja relacionada à rede pública e capaz de detonar a implantação de políticas específicas na área.
O Laboratório de Saúde do Trabalhador
da Universidade de Brasília, coordenado por Anadergh Barbosa-Branco, comparou as licenças concedidas em 2002 pelo Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) a seis ramos profissionais em regime celetista (com vínculo regulado pela Consolidação das Leis do Trabalho) em todo o Brasil. Foram analisados especificamente os afastamentos por motivos de doença por mais de 15 dias.
Veja a íntegra em:
http://revistaeducacao.locaweb.com.br/educacao/conteudo/materia/materia_100.html
Revista Educação
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