Entrevista com Fernando Faro, o Baixo |
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Publicado pela revista Carta Capital 16/11/2004 |
(Maurício Stycer)
O seu apelido é Baixo, mas assim também é a forma que Fernando Faro usa para se referir, carinhosamente, a todo mundo, não importa a altura do interlocutor. Miúdo fisicamente, esse sergipano de Laranjeiras é um dos gigantes da tevê brasileira. Sempre nos bastidores, criou e dirigiu dezenas de programas, em todas as emissoras, nos mais diversos gêneros – jornalismo, dramaturgia e musicais.
Como ocorre com o trabalho de outros pioneiros da televisão, o legado de Faro, na sua maior parte, só sobrevive na memória dos espectadores. Há hoje poucos registros intactos de programas como Divino Maravilhoso (TV Excelsior), Móbile (Tupi) ou TV de Vanguarda (Tupi), para citar apenas três momentos significativos dos anos 60 que contaram com a sua participação.
Aos 77 anos, Faro lamenta o descaso com a memória da tevê brasileira, mas festeja uma iniciativa destinada a preservar aquela que talvez seja a marca maior de sua produção: os programas MPB Especial e Ensaio. Uma associação da TV Cultura, da gravadora Trama e da empresa de finalização TeleImage levou ao lançamento em DVD de um histórico programa de Faro com Elis Regina. Se tudo certo, será o primeiro de uma série.
Com a série Ensaio, até hoje exibida pela Cultura, Faro criou uma forma original e inimitável de programa musical. A marca maior é o fato de Baixo entrevistar os seus convidados ao longo da atração, mas o espectador não ouvir as perguntas, apenas as respostas. O curioso efeito foi descoberto por Faro por acaso, no fim dos anos 50, enquanto entrevistava um criminoso numa delegacia.
Outra marca do Ensaio é a forma de enquadrar os artistas, em closes de detalhes do corpo (boca, olhos, uma mão etc.), levando ao pé da letra a idéia de desconstrução dos personagens que se exibem no programa. Nas contas de Faro, são cerca de 500 programas, cujas cópias em vídeo ele conserva em sua casa, na Granja Viana, em São Paulo, que mereceriam ser preservados de uma maneira mais profissional:
CartaCapital: O senhor se preocupa com a conservação deste material?
Fernando Faro: Claro. O material não está em bom estado. E a fita, naturalmente, com o passar do tempo, solta ácido, fica “dropada”, com “caroços”. A idéia do Sesc, em 2001, de fazer uma série de CDs com o Ensaio foi legal porque, pelo menos, o áudio vai durar mais. Agora, com o DVD, a durabilidade é ainda maior, de áudio e vídeo.
CC: Há material perdido?
FF: Sim. No programa da Elis, mesmo, há um trecho que se perdeu. Deteriorou. Não lembro exatamente o quê. Sei só que uma parte dele não está como eu me lembro. Fiz dois programas com os Novos Baianos, um deles se perdeu completamente por falta de atenção. Alguém vai gravar um programa e diz: “Olha, tem aqui uma fita dos Novos Baianos, já foi pro ar. Então, vamos gravar em cima”. Coisas assim. A Cultura tem de tomar mais cuidado com isso.
CC: Como foi a gravação desse programa com a Elis?
FF: Elis e Cesar (Camargo Mariano) estavam vivendo na minha casa. Ela estava se escondendo não sei de quem. À noite, Elis pediu: “Baixo, deixa eu ouvir aquela fita do Lupicínio Rodrigues que você tem”. Pus a fita, e ela disse: “Acho que vou cantar isso”. Era Cadeira Vazia. Não sei se ela cantou no programa e se perdeu (canta): “Entra, meu amor, fica à vontade/ E diz com sinceridade, o que desejas de mim/ Entra, podes entrar, a casa é tua... Mas, de uma coisa podes ter certeza/ o teu lugar aqui na mesa/ Tua cadeira ainda está vazia”. Outra música, essa eu tenho certeza que estava no programa, era Alô, Alô, Taí Carmen Miranda, do Silas de Oliveira. Não sei o que aconteceu.
CC: Ela não parece muito feliz no programa.
FF: Ela volta e meia lembrava do Agostinho dos Santos, que tinha morrido naquele ano.
CC: Também fala muito de Ciro Monteiro.
FF: Também tinha morrido naquele ano. Vinicius dizia dele: “É um grande abraço em toda a humanidade”. Era um cara amigo de todos.
CC: E ela fala com uma segurança de uma mulher muito experiente, apesar de ter menos de 30 anos na época.
Leia a íntegra em:
http://cartacapital.terra.com.br/site/exibe_materia.php?id_materia=1807
Carta Capital
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