Publicado pela Agência Carta Maior 20/11/2004

(Bia Barbosa)
Buscar práticas educativas inovadoras é um desafio que vem sendo cada vez mais encarado por professores e professoras no Brasil afora. As experiências são aos milhares mas, no final do processo, pouca coisa acaba ganhando perenidade na forma de políticas públicas de educação. Mas uma nova metodologia, que vem sendo aplicada há quatro anos de forma experimental, tem grandes chances de quebrar esta barreira. O projeto Nossa Escola Pesquisa Sua Opinião (Nepso), desenvolvido pelo Instituto Paulo Montenegro e pela organização não governamental Ação Educativa, tem mostrado resultados estimulantes onde é implantado. Em alguns casos, foi responsável por mudanças significativas nas escolas onde funciona. Nesta sexta-feira (19), terminou em São Paulo o “III Congresso Ibope-Unesco – A Pesquisa que Ensina”, que reuniu educadores de todo o país justamente para avaliar resultados, permitir melhorias no Nepso e facilitar o intercâmbio de experiências da escolas públicas e seus profissionais na construção de projetos pedagógicos que utilizam a pesquisa de opinião como ferramenta de aquisição de conhecimento.

Focada nas escolas públicas, a metodologia do Nepso tem se mostrado capaz de dinamizar o trabalho escolar, beneficiando alunos e professores. A idéia é simples e inovadora ao mesmo tempo. Capacitado anteriormente por formadores do projeto, o professor passa a ter em mãos um novo instrumento de trabalho com os estudantes. Cada um tem liberdade para definir, com seus alunos, o tema que será pesquisado pela turma. Numa aula de biologia ou de ciências socias – o Nepso também tem sido aplicado no ensino fundamental – pode-se, por exemplo, realizar uma pesquisa sobre reciclagem do lixo. Os estudantes vão então, com o auxílio do professor, elaborar o questionário da pesquisa, definir seu público alvo, realizar as entrevistas e tabular os dados. O objetivo não é formar pesquisadores, mas estimular o aluno a se tornar autor de se próprio aprendizado. Da sala de aula, o método pode “ocupar” toda a escola e fazer com que todos os que estudam e trabalham naquela instituição passem a refletir sobre determinado assunto.

"Este tipo de metodologia começa a questionar a estrutura da própria escola, ao colocar professor e aluno trabalhando lado a lado. É o que chamamos de aprendizagem significativa, que ganha significado. Aprender não precisa ser chato; pode ser instigante, legal, e alunos e professores acabam vivenciando esta forma diferente de aprendizado”, explica Marilse Araújo, coordenadora nacional do projeto Nepso. “Nosso grande objetivo é propor ao professor práticas educativas inovadoras. Isso tudo vai de encontro às diretrizes do Ministério da Educação, por exemplo, na questão da transdisciplinariedade. A preocupação é contribuir para melhorar a qualidade da educação”, afirma.

Nas mais de 250 pesquisas realizadas em cerca de cem escolas em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pernambuco e Rio Grande do Sul, o Nepso se revelou aos alunos um estímulo à leitura e à pesquisa nas bibliotecas para a elaboração dos questionários e mostrou ganho gerais no desenvolvimento dos estudantes. Os alunos indisciplinados, por exemplo, melhoram sua relação pessoal dentro da escola; já os mais tímidos se sentiram estimulados a se envolver em outros projetos. Como há autonomia dos alunos e a interferência do professor é pequena, os estudantes passam a ser protagonistas e agentes construtores, investigadores e problematizadores das questões que os cercam.
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Agência Carta Maior

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