Entrevista com Renina Katz |
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Publicado pela Revista E, do Sesc-SP novembro 2004 |
A carioca Renina Katz cursou pintura na Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, e licenciou-se em desenho pela Faculdade de Filosofia da Universidade do Brasil, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em 1950, estudou gravura em metal com Carlos Oswald, no Liceu de Artes e Ofícios, e xilogravura com Axl Leskoscheck, na Fundação Getulio Vargas. Mudou-se para São Paulo em 1951, lecionou desenho e gravura no Museu de Arte de São Paulo, de 1952 a 1955, e publicou seu primeiro álbum de gravuras, Favela, em 1956. De 1956 a 1988, deu aulas de programação visual na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade de São Paulo (USP). Em entrevista exclusiva à Revista E, a artista plástica falou sobre a história da gravura no Brasil, sobre a carga política em trabalhos seus e de seus contemporâneos e sobre o ofício de ensinar arte.
Podemos começar falando sobre essa produção que está na Pinacoteca do Estado de São Paulo. Como foi a realização desse trabalho?
O que está lá na Pinacoteca – e isso está explicado inclusive no catálogo da exposição – é o resultado da escolha de 50 peças das 300 que eu já doei para lá. Eu não tive nenhuma influência nessa escolha – ainda bem, ela está perfeita e a montagem é maravilhosa. O diretor da Pinacoteca, Marcelo Mattos Araújo, junto com outras pessoas, entre elas o doutor José Mindlin, proprietário de grande parte de minha obra, não tiveram a intenção de fazer uma retrospectiva. Eu diria que é um resumo. Numa única vitrine há coisas dos anos 50, 60 e alguns álbuns que nunca tinham vindo à luz por ser edições muito pequenas e já com destino a colecionadores. Por isso acho a idéia da exposição tão boa. Outra parte do material vem do que eu fiz em litografia, principalmente no século passado [risos] e neste século, além das gravuras em metal. Acho que a exposição está muito bem montada, como disse. Enfim, não haveria forma melhor de comemorar o aniversário do doutor Mindlin. São esses os motivos, por assim dizer, dessa mostra: a comemoração dos 90 anos do bibliófilo José Mindlin e a inauguração do gabinete de artes gráficas, que é uma velha reivindicação dos artistas.
A gravura brasileira tem comprovada importância, mas há pouco espaço para exibi-la. Há preconceito nisso?
No Brasil talvez a gravura não tenha mesmo muito espaço, mas fora ela tem. Todas as vezes em que houve uma representação brasileira em exposições no exterior, as gravuras apareciam entre as obras escolhidas. Eu me lembro que em 1956, na Bienal de Veneza, a representação brasileira era só de gravuras, inclusive minhas. Ou seja, isso sempre dependeu muito dos curadores. Ela não tem aqui no Brasil muito espaço mercadológico. Agora, do ponto de vista artístico, a gravura é muito respeitada. Isso porque ela exige uma paciência enorme, demanda muito conhecimento do ofício – faço questão dessa palavra. Não dá para deixar “baixar” um anjo. É preciso uma disciplina muito grande para chegar ao objetivo que se quer, não pode haver pressa, tampouco fazer concessões. É possível reparar uma coisa muito curiosa quando se fala em gravura: sempre ela é boa ou ruim, nunca frívola. Mesmo uma pessoa que conheça bem os mecanismos e as técnicas do estilo, sem uma boa compreensão do que é a gravura, não realiza, não chega lá. Tanto é que poucas vezes ela é objeto de decoração. Ela não cumpre esse papel. Eu não tenho nada contra objetos de decoração, acho a Capela Sistina [no Vaticano, em cujas paredes o pintor, escultor e desenhista italiano Michelangelo pintou O Juízo Final, no século 16], que tem esse sentido, maravilhosa. Mas existe, hoje, um lado mercantil da decoração que está dominando o mundo.
Leia a íntegra em:
http://www.sescsp.org.br/sesc/revistas/revistas_link.cfm?Edicao_Id=200&Artigo_ID=3096&IDCategoria=3330&reftype=2
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