Quando o celebridade substitui a autoridade |
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Entrevista com Jurandir Freire Costa na revista Carta Capital 13/12/2004 |
(Maurício Dias)
Toda as vezes que o psicanalista Jurandir Freire Costa quebra o silêncio e lança um livro no mercado é impossível não dar ouvidos ao que diz. Os temas que aborda – em princípio fincados no terreno em que é especialista – guardam sempre uma relação estreita com o comportamento das elites brasileiras. Elite, aliás, é uma expressão que ele não gosta porque não acha que defina o que há de melhor no País. Mas, pelo entendimento comum, é ela, sem dúvida, o que define melhor o alvo que ele mira.
Para um país, como o Brasil, de modesto conteúdo de crítica e autocrítica, é uma pena que Jurandir Freire escreva livros com pouca freqüência. Mas ele acaba de lançar Vestígio e Aura – Corpo e Consumismo na Moral do Espetáculo (Editora Garamond) e, uma vez mais, não quebra sua tradição. O livro é uma crítica crua e corajosa ao mundo das celebridades que vivem a vida, rindo e, às vezes, chorando, como se estivessem num parque de diversões.
Uma das conclusões de Jurandir é um disparo certeiro: “Celebridade é uma tolice colorida”.
A moldura desse mundo seria a “moral do espetáculo”. Ou seja, o comportamento de quem acha que está sempre brincando e, por isso, se considera sem compromisso com a ética. Como admite Jurandir, esta é uma situação que raia a irresponsabilidade social.
Para quem o acusa de “pessimista”, Jurandir Freire lembra, modesto, que fez apenas uma compilação do que disse uma multidão de pessoas e, principalmente, Hanna Arendt, que ele considera “a matriz” de suas reflexões. Mas também busca a companhia de Guy Debord, um pensador francês que formulou o conceito sobre a “sociedade do espetáculo” e que foi um dos fermentos das idéias que tomaram as ruas de Paris no fim dos anos 60.
Em entrevista a CartaCapital, Jurandir Freire encontrou uma síntese que parece precisa para suas preocupações: “O meu interesse é mostrar que o que a gente sofre mentalmente tem a ver com o que a gente vive culturalmente”. E o procedimento cultural das celebridades – que tomou a vez da figura da autoridade – tem impacto na vida das pessoas. É bom repetir: Jurandir fala, basicamente, do mundo dos ricos e famosos. E quando se refere à autoridade não faz referência ao guarda da esquina e, sim, a pessoas que pela estatura moral ou intelectual tornam-se referência da sociedade.
CartaCapital: O que é a moral do espetáculo?
Jurandir Freire Costa: O conceito é um pouco difícil até porque está em elaboração. Não é uma coisa sobre a qual eu já tenha toda a clareza. Ele foi tirado da idéia do Guy Debord sobre A Sociedade do Espetáculo. Essa sociedade corresponde a uma moralidade que eu chamei de moral do espetáculo, que tem, em essência, duas extensões bem claras. A percepção da vida como entretenimento e a idéia de felicidade como satisfação das sensações. Moralidade é o que tende a dar sentido à vida das pessoas.
CC: Essa moral do espetáculo, o senhor diz, privilegia a celebridade em detrimento da autoridade.
JFC: É um conceito-chave.
CC: É uma mudança definitiva?
JFC: Não acho que seja definitiva. Eu penso que a prática social crítica deve fazer tudo para reverter esse estágio. Então não considero que seja definitiva. Ela, inclusive, tem muita contradição que eu aponto no livro. Uma delas é letal. A celebridade, ao contrário da autoridade, é invejada, mas é profundamente desprezada. Invejada pelo poder social e desprezada pela nulidade moral. Não há nada que se mantenha com essa contradição.
CC: Qual a diferença básica entre uma autoridade e uma celebridade?
JFC: A diferença básica é que a celebridade se sustenta simplesmente na realidade do espetáculo. Quer dizer, é uma fantasia que se mantém exclusivamente pelo poder de sedução dos meios de comunicação de massa.
Leia a íntegra em:
http://cartacapital.terra.com.br/site/exibe_materia.php?id_materia=1856&PHPSESSID=b959e96f47a48ba52c1d365c2f9f3a33
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