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Quando pensar demais atrapalha


Publicado pelo site Ciência Hoje On-line 10/12/2004

(Suzana Herculano-Houzel)
Quem toca piano ou outro instrumento musical conhece o problema: aquela música que você conhece de cor há anos só sai inteira e certinha se você não tentar pensar onde colocar os dedos. Ou sai de primeira, como se os dedos ‘soubessem’ o caminho sem o cérebro, ou você empaca e precisa recomeçar do começo.

O problema se explica, até onde se sabe, por um embate entre duas regiões diferentes do cérebro que participam do controle motor: o córtex frontal, que distribui ordens e supervisiona sua execução, e os núcleos da base, mais no interior do cérebro, que guardam as seqüências completas de comandos que o córtex deve dar aos músculos. Movimentos recém-aprendidos precisam de decisões constantes do córtex para serem executados, e você se sentirá lendo cada nota na pauta antes de pensar em onde colocar qual dedo.

Movimentos bem aprendidos, no entanto, não dependem mais de decisões do córtex – na verdade, tentativas de interferência do córtex acabam atrapalhando os planos dos núcleos da base, que a essa altura já conseguem dar conta do recado sozinhos, e precisam apenas que o córtex passe adiante os comandos para os músculos, sem acrescentar idéias novas.

De acordo com um estudo publicado em novembro na revista Cerebral Cortex, pensar demais não atrapalha só os músicos tentando tocar no ‘piloto automático’: a interferência do córtex frontal também é prejudicial em outras tarefas que requerem respostas rápidas.

O chamado ‘aprendizado automático’ acontece quando seu cérebro aprende sem que você note que está aprendendo, seja o assunto regras gramaticais, uma musiquinha, seqüências de letras ou a ordem de botões a apertar – como no estudo de Paul Fletcher e seus colegas, da Universidade de Cambridge (Reino Unido) e três outros centros de pesquisa europeus.

A equipe pediu a 11 voluntários para tocar um de quatro botões, dependendo da instrução que aparecesse na tela. Após cada toque, aparecia nova instrução na tela – e a tarefa consistia em fazer 300 toques o mais rápido possível. Todos os voluntários sabiam que, em meio ao exercício, uma seqüência de 10 toques se repetiria dezenas de vezes. Alguns deveriam tentar descobri-la; os outros não precisariam se preocupar com ela.

Em exercícios como esse, os voluntários acabam aprendendo inconscientemente a seqüência e executam-na mais rapidamente do que outros conjuntos de toques – assim como nossos dedos digitam no teclado palavras muito usadas como ‘cérebro’ e ‘neurônio’ mais rapidamente do que as outras (tá, os meus dedos pelo menos). Fletcher e seus colegas descobriram que todos os voluntários melhoraram consideravelmente ao longo da tarefa, isto é, apertavam o botão correto cada vez mais rápido ao longo do teste. Ou seja: aprendiam.

Mas aqueles que tentavam descobrir a seqüência que se repetia eram sempre mais lentos do que os outros, e só ao final do teste conseguiam apertar os botões tão rapidamente quanto aqueles que não tentavam encontrar os 10 toques que se repetiam. Pensar demais às vezes atrapalha.

Nada muito grave, claro: estamos falando de reações apenas 15% mais lentas quando se tenta descobrir o que se está aprendendo antes do aprendizado em si. O interessante do estudo é mostrar, com a ajuda de exames de ressonância magnética funcional, que a tentativa de descobrir a seqüência secreta ao invés de simplesmente deixar o cérebro apertar os botões à vontade gera uma grande ativação do córtex frontal, que atrapalha a conversa entre outras regiões do cérebro que deveriam estar cuidando do aprendizado automático.

O curioso é que, no final das contas, é o mesmo cérebro que aprende, quer ele note isso ou não. E, se nota o que está fazendo, ele mesmo se atrapalha no processo. Um daqueles raros casos em que pensar demais faz mal...

http://cienciahoje.uol.com.br/view/3153

Ciência Hoje On-line

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