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Publicado pelo Ciência Hoje 28/12/2004 |
(Renata Moehlecke)
Pesquisadores da ONG Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) indicam que 47% da floresta sofrem algum tipo de ocupação humana. Soma-se a isso outro dado alarmante: da área de 1,44 milhão de km2 que o governo federal identificou com potencial para criação de florestas públicas para uso sustentável, 26% (cerca de 378 mil km2) já apresentam sinais de atividade humana.
Dos 53% que sobram, cerca de 2% são corpos d’água e aproximadamente 51% correspondem a matas sem sinais de ocupação. "A maioria está coberta por vegetação nativa, mas parte provavelmente inclui ocupação humana leve, não detectável por satélites", esclarece o engenheiro florestal Paulo Barreto, um dos autores do estudo.
Os resultados foram retirados de um levantamento ainda não publicado divulgado pelo jornal Folha de S. Paulo. A pesquisa analisou durante um ano a dimensão das pressões humanas sobre a floresta amazônica, que ocupa uma área de 4,1 milhões de km2. "A intenção não era só fazer um mero acompanhamento da área total devastada, mas identificar áreas que estão sendo ocupadas e prevenir danos ambientais", afirma Barreto.
Além dos dados governamentais sobre o desmatamento (11% da Amazônia foi desflorestada), foram consideradas informações sobre estradas clandestinas para extração de minerais e madeira, pecuária, assentamentos para a reforma agrária e, sobretudo, focos de calor na floresta detectados por satélite – prováveis indicadores de incêndios florestais e desmatamentos pequenos não mapeados pelo governo. Os pesquisadores concluíram que, do total da extensão da floresta, 19% estão ocupados de forma consolidada e 28% sofrem o que eles chamaram de "pressão potencial humana": essa categoria inclui as áreas licenciadas para pesquisa mineral, reservas de extração e áreas ao redor dos pontos de calor.
Barreto frisa que os pontos de calor são os indícios mais fáceis para detectar o início da ocupação. "No mínimo 72% dos focos de calor estavam ligados a algum tipo de via de acesso para extração de minerais e madeira, como estradas clandestinas, rodovias oficiais ou rios", destaca.
Há indícios de que a exploração de madeira é uma das principais atividades de ocupação das florestas, pois os madeireiros abrem extensas estradas clandestinas em terras devolutas. Barreto aponta ainda um outro fator que relaciona fogo e atividades madeireiras: 50% das áreas aprovadas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em 580 projetos de manejo florestal coincidem com áreas em volta de queimadas. Os planos de manejo liberam áreas do bioma para a exploração sustentável de madeira, porém em muitos casos os planos não são executados.
Sobre o espaço destinado à preservação, o estudo mostra que uma área intacta ainda resiste: cerca de 1 milhão de km2 das zonas prioritárias ainda podem ser conservadas. No entanto, é preciso agir rápido: 73% dessa área se localizam em zonas acessíveis à exploração, próximas as vias de transporte já existentes ou onde é viável economicamente abrir novas estradas madeireiras. "É preciso acelerar imediatamente a criação de unidades de conservação para prevenir a ocupação desordenada de áreas com interesse para conservação da biodiversidade", defende o engenheiro florestal.
"Temos que concentrar os esforços dos próximos anos em estratégias preventivas para evitar danos e barrar as pressões de ocupação em áreas sensíveis", diz Barreto. "Não adianta só chorar e sofrer pelas áreas já desmatadas." O próximo passo da equipe é mapear as estradas nas regiões ainda não estudadas e continuar o monitoramento da ocupação em toda a Amazônia.
http://cienciahoje.uol.com.br/view/3179
UOL Ciência Hoje
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