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Publicado no caderno Sinapse, da Folha de S.Paulo 25/01/2005 |
(Luanda Nera)
Um tom de voz, um olhar, um gesto calmo. Assim o inglês Dominic Barter, 37, conseguiu sensibilizar um jovem que acabara de roubar sua carteira em Copacabana, no Rio de Janeiro, há dois anos. Depois de entregar o dinheiro e se afastar do local do assalto, Dominic foi abordado novamente pelo assaltante. Ele queria saber se a vítima estava bem e se tinha como voltar para casa e ainda lhe pediu desculpas, justificando a necessidade do roubo.
Esse é apenas um exemplo de como Barter tem conseguido comprovar na prática a teoria que difunde pelo Brasil, a CNV (Comunicação Não-Violenta). Partindo da definição de violência como "a expressão trágica de necessidades não-atendidas", o método -desenvolvido nos anos 60 pelo psicólogo americano Marshall Rosenberg- propõe soluções práticas para que, pela linguagem, os seres humanos consigam enxergar os outros e a si mesmos.
Os trabalhos aplicando a filosofia da CNV foram primeiro realizados com gangues de rua nos EUA e em escolas e hoje estão presentes em mais de 30 países, entre eles Israel, Serra Leoa, Bósnia-Herzegóvina e Sri Lanka. Na maioria das vezes, a CNV chega a um novo local por iniciativa de indivíduos, independentemente de organizações.
Coordenador da CNV no Brasil, sustentada por doações, Barter tem sido convidado para mediar conflitos em presídios, em morros do Rio de Janeiro, em empresas e até em ambientes familiares. "Recentemente fui chamado para mediar um conflito entre dois homens de influência, numa cidade do interior de São Paulo. Agi como tradutor, ajudando cada um a ouvir o que o outro queria. Assim eles mesmos resolveram o conflito. Não queriam brigar, só não sabiam como se conectar num terreno mútuo."
Confira abaixo a entrevista que Barter concedeu ao Sinapse.
Sinapse - Qual é o objetivo prático da comunicação não-violenta?
Dominic Barter - A CNV apenas redescobriu dinâmicas que os grandes sábios de todos os credos, de todas as religiões, falam há milênios: o ser humano foi feito para viver em paz. As pessoas são unidas, e as necessidades são comuns a todos. Quando enxergamos essa humanidade dentro de nós, não é preciso falar sobre moralidade, sobre ética. Esses conceitos surgem espontaneamente do desejo das pessoas de agir em harmonia com todas as suas necessidades, inclusive a de contribuir com o bem-estar do outro, que une as pessoas mesmo nas circunstâncias mais difíceis.
Sinapse - Como você procura despertar a paz nas pessoas?
Barter - Seja no universo empresarial, seja no ambiente familiar, seja para mediar encontros entre a polícia do Rio de Janeiro e as comunidades dos morros, a mediação consiste em tentar eliminar os vestígios de uma linguagem que sugere acusação, julgamento, rotulação, desumanização. Nosso trabalho é traduzir essa linguagem da violência, a expressão trágica de necessidades não-atendidas, em uma comunicação transparente.
Sinapse - Os resultados têm sido favoráveis?
Barter - Em presídios, escolas, empresas e até em casa, quando as pessoas enxergam a humanidade do outro, elas procuram soluções que atendam a todos. Elas sabem intuitivamente que as únicas decisões sustentáveis são aquelas que ambas as partes assumem voluntariamente. Isso eu vejo em diversas situações, tanto nas disputas sociais como nas guerras das mesas de cozinhas.
Sinapse - Como identificar "inimigos" nos conflitos domésticos?
Barter - Em nossas relações íntimas, geralmente procuramos o sustento de nosso dia-a-dia. Há muitas experiências dolorosas nesse universo, justamente porque depositamos grandes expectativas. A dor é muito maior quando as necessidades não são atendidas por aqueles que amamos e que esperamos que nos amem também. A maioria de nós não foi educada para falar uma linguagem de parceria, que semeie a confiança. Essas são as ferramentas principais que o treinamento da CNV oferece: capacidade de se expressar claramente ao outro e de enxergar no outro seu coração, sua humanidade, apesar das palavras e das ações que ele usa.
Leia a íntegra em:
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/sinapse/sa2501200502.htm
Folha de S.Paulo
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