ECA oferece curso de redação gratuito |
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Publicado pelo portal da USP 18/02/2005 |
(Rafael Sampaio)
Francimeire dos Santos veio de Teresina (Piauí) para São Paulo há oito anos. Deixou os pais e onze irmãos na terra natal, na tentativa de melhorar de vida. Ela aluga um quarto de pensão em Osasco (grande São Paulo) com a amiga Jussara. “É ruim ficar sem estudar, né? Encontrei uma notícia no jornal sobre o projeto Redigir e vim me inscrever”, diz Meire, como prefere ser chamada. As inscrições para novos alunos do curso de redação e gramática do Redigir podem ser feitas até o dia 26. São 150 vagas, destinadas a pessoas de baixa renda, que cursam ou completaram o 3° ano do ensino médio em escola pública.
“Gostaria de cursar Turismo, mas tem que ser em uma faculdade pública porque não posso pagar uma particular”. Meire trabalha como “revisora” em um hotel paulista, das 23h às 6h. “Tenho que verificar se os hóspedes não roubaram toalhas ou travesseiros. Se some alguma coisa sem que eu veja, o gerente desconta o produto roubado de meu salário”. Nos documentos que Meire trouxe para a inscrição consta seu salário: R$ 400.
Muitas histórias similares são vivenciadas dia-a-dia pelos professores do Redigir, na maioria alunos de Jornalismo da Escola de Comunicações e Artes (ECA-USP). O curso atendeu mais de duas mil pessoas desde que foi criado, há seis anos. Trata-se de uma atividade de extensão universitária na qual os estudantes trocam experiências entre si e conhecem a fundo a realidade de pessoas com condições de vida diversas, mas cheias de expectativas. O curso é semestral. O objetivo do Redigir não é apenas ensinar a escrever melhor, mas a pensar criticamente. Fazer com que o estudante tenha opiniões sobre o que vê na televisão ou lê no jornal.
Para isto existe, ainda, um ciclo de palestras que acontece todo fim-de-semana a partir do início do ano letivo. Com o nome de Como não ser enganado pela Mídia, o ciclo de palestras reúne ex-professores do Redigir e comunicadores experientes para orientar os espectadores. “O ciclo de palestras têm recebido um bom público, depois que o horário passou a ser adequado com as aulas de sábado”, diz Rodrigo Ratier, ex-aluno de Jornalismo da ECA e responsável pelo ciclo
A aluna do 3o ano de Jornalismo Ana Carolina Ikeda dá aulas no Redigir há um ano e meio. “Gosto bastante. As aulas são sempre em dupla. Os próprios professores preparam as aulas. Dá para levar os estudantes a uma exposição no MAC, por exemplo, e discutir com eles sobre arte”. Cada turma reúne de 15 a 20 alunos, com aulas de redação e de gramática em diferentes horários.
Durante o semestre, os alunos criam um fanzine com suas redações e fazem uma troca com outra turma. Ao término do curso, eles são convidados a fazer um projeto final que geralmente é outro fanzine. A estudante Verena Novaes, que foi aluna do projeto, recorda que sua turma preparou outro tipo de apresentação: um programa de rádio de meia hora, gravado em uma fita cassete, que foi apresentado em julho de 2004.
“Os professores propuseram que o tema fosse ‘o jeitinho do brasileiro’, e a turma gostou. Um dos colegas fez uma crônica sobre o uso de xerox de livros e cds piratas”. Verena recorda ainda que uma colega, Janaína, fez um texto inusitado: seu pai trabalha com criação e abate de gado no terreno onde hoje está sendo construída a USP Zona Leste. “Meu pai trabalha lá faz 12 anos. É ilegal, a gente sabe”, diz Janaína.
O projeto Redigir é organizado de maneira horizontal. Não há coordenação ou diretoria. As decisões são tomadas em reuniões que envolvem todo o grupo. Há experiências com aulas em comunidades fora da ECA: uma turma foi formada em Paraisópolis e outra no Jardim Ângela.
Leia a íntegra em:
http://www2.usp.br/canalacontece/artigo.php?id=2619
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