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Artigo de Dante Donatelli no site AOL Educação 22/02/2005 |
Meu compromisso nesta coluna é pensar as coisas da escola e tudo que esta a sua volta, porém não consigo me furtar de estabelecer um paralelo entre o novo presidente da Câmara dos Deputados e a vida na escola.
Nos últimos tempos se busca reverter o quadro de indisciplina na escola refletindo como superar a difícil relação entre os alunos e a instituição escolar. Para tanto se faz um enorme esforço de trazer para dentro da vida escolar uma educação por Valores, e não por punição ou negação.
O que significa educar para e pelos valores? Significa buscar dar aos alunos o significado da grande ética, uma educação que faça com que o aluno perceba o quão importante é a sua condição e responsabilidade para com o outro que está a sua frente. E este outro é o seu colega, o seu professor, o coordenador, o funcionário da cantina, o pessoal da faxina, enfim todos aqueles que vivem no espaço escolar.
Todos os dias a escola se esforça em revelar aos alunos o quão essencial é o outro para sua própria existência e como aquilo que EU faço é determinante para que o meu OUTRO seja acolhido e respeitado. Ter valor é saber o que eticamente se coaduna na vida pública, ou melhor, na escola, e o que não se coaduna. Não é moralismo, é um exercício cotidiano de se fazer o que é correto e eticamente aceito e acordado pelo coletivo.
A educação pelos valores faz pesar o sentido dos bons exemplos como estimuladores de boas práticas na escola. Ao invés de punir, trazer à cena que qualquer desonestidade, qualquer burla da regra que rege a vida no microcosmo da escola, exige daquele que educa uma tomada de posição no sentido de buscar a responsabilização do educando. Ao se omitir, deixa-se de educar para corroborar com o anti ético.
Todos nós podemos ter um pouco de Severino, daquele desejo de tirar vantagem, daquela sinceridade quase pornográfica de dizer tudo ou quase tudo o que pensa e também o que não pensa sem se sentir constrangido. Mas quando se toma como exemplo público declarações do tipo: “Não há nada de mais em dar emprego a um parente” ou “Na minha plataforma esta contemplado um aumento nos salários dos meus colegas”, entre outras pérolas do fisiologismo político, acredito que tais fatos acabam aparecendo na escola como exemplo, como reflexo das práticas da vida pública.
Os alunos, em especial os adolescentes, lêem jornais, assistem ao noticiário da TV e sabem razoavelmente bem em que mundo vivem, maus exemplos vindos de altas autoridades servem somente para fragilizar a aprendizagem e a formação dos jovens dentro do espírito democrático.
Severino Cavalcanti não é o primeiro, mas bem que poderia ser o último homem público neste país a dar maus exemplos, a fazer parecer à sociedade que os espertos sempre terão espaço na vida democrática, mais que os honestos e bem intencionados. E veja que a vida pública brasileira hoje tem uma gama de bons políticos, pessoas sérias e comprometidas com a coisa pública mas, vez ou outra, acabam devorados pelos Severinos.
Desacreditar a democracia pelas ações de Severinos é tornar a vida do cidadão mais complicada, mais contraditória do que normalmente já é. Em um país sem tradição democrática, com uma longa história autoritária, não podemos nos dar ao luxo de permitir que Severinos ocupem o espaço público e façam dele lugar das suas bravatas e de suas elaborações simplórias e indecentes.
A despeito do que alguns imaginam, a escola brasileira se dedica a viver e dar à democracia um significado prático e revelador da sua importância para a existência da nossa sociedade. Formar para a cidadania é dar a cada um dos nossos alunos uma educação em valores, uma educação comprometida com uma ética da liberdade e da igualdade, na qual a esfera pública de poder serve para dar representação às nossas crenças e vontades, e não salários vultosos em meio à pobreza, e nem muito menos empregos de conveniência para parentes próximos, em um misto de mau exemplo e desprezo pelo povo.
http://educacao.aol.com.br/fornecedores/aol/2005/02/22/0001.adp
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