Aluno de 8ª série passa em vestibular em São Paulo |
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Publicado pelo site Folha Online 06/03/2005 |
(FÁBIO TAKAHASHI
ALESSANDRA BALLES)
Muitas vagas, insuficiência de interessados e um simulacro de vestibular. Essa é a realidade em diversas universidades privadas no país. Na prática, nessas instituições, as provas de seleção só existem para cumprir a exigência legal. Não selecionam ninguém. Entra na faculdade quem tem condições de bancar a matrícula.
A pedido da Folha, e com autorização de seus pais, alunos de oitava série do ensino fundamental se inscreveram em vestibulares de instituições particulares em São Paulo. Os três que fizeram as provas foram aprovados. Outro não recebeu resposta, e dez foram barrados na inscrição por não terem o ensino fundamental completo.
Os alunos classificados, de 13 e 14 anos, só precisaram fazer uma redação, com temas como a "Importância da cidade de São Paulo para o Brasil". Dois são de escola pública; o outro, de particular.
A consultora de língua portuguesa da Folha, Thais Nicoleti de Camargo, leu cópias das redações. Para ela, os textos ainda são "imaturos".
Alguns números podem explicar por que vestibulares privados baixaram tanto a exigência. Nos últimos dez anos, enquanto as inscrições nos processos seletivos da rede privada cresceram 2,8 vezes, o de vagas aumentou 4,6. Os dados constam do Censo da Educação Superior, divulgado no final de 2004, com base em 2003. Para ter uma comparação, a relação candidato/vaga nas universidades públicas ficou em 8,6, contra 1,5 nas privadas. O número de vagas ociosas atingiu 42% nas instituições particulares.
Com tantos lugares não preenchidos, as universidades se vêem na necessidade de tentar encher as salas. E até cursos que não foram mal avaliados no último Provão baixam o nível da seleção --os estudantes da oitava série foram aprovados em história na Unifai (Centro Universitário Assunção) e direito na Universidade São Judas Tadeu, classificados como B e C, respectivamente.
Para o presidente da CM, consultoria especializada em planejamento universitário, Carlos Monteiro, as particulares inflam o número de vagas porque já contam que haverá uma evasão significativa durante o curso. "Além disso, as universidades estão sempre com medo de o Ministério da Educação proibir a abertura de novas vagas", diz.
Mesmo com sobra de vagas, as universidades são obrigadas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação a fazer um processo seletivo, não necessariamente o vestibular tradicional. Uma das alternativas escolhidas é a redação.
"Acaba sendo uma obrigatoriedade que não tem sentido acadêmico", diz o professor José Vieira de Sousa, que atua na área de política e gestão educacional na Faculdade de Educação da UnB (Universidade de Brasília).
Já para o professor da pós-graduação em educação da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) Alípio Casali, algumas instituições vêem a seleção como "uma receita a mais".
Jocimar Archangelo, que criou o Provão e o vestibular da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), aponta outro problema: "Um bom processo seletivo precisa também dar um diagnóstico do corpo docente." Sem isso, segundo ele, é muito difícil desenvolver um curso de alto nível.
A professora Elizabeth Balbachevsky, do Núcleo de Pesquisas sobre Ensino Superior da USP, faz uma ressalva. "Você não pode querer que uma universidade de massa, que atende a uma parcela menos bem academicamente formada, seja seletiva. O que se tem de ver é o que essa instituição vai fazer com o aluno."
Absurdo
"Escrevi cinco linhas e fui aprovado. É um absurdo, eu sei." É assim que o estudante de administração de empresas Gilmar (nome fictício) começa a contar sua história no ensino superior.
Ele foi a uma faculdade particular no interior de São Paulo para pedir informações sobre o curso. Na secretaria, a atendente, em vez de entregar papéis com as explicações, já deu a Gilmar, 30, a prova -uma redação.
Gilmar terminou o texto, que tinha apenas 5 linhas, fez uma entrevista com o diretor da faculdade e foi aprovado.
http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u17113.shtml
Folha Online
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