Mudanças climáticas ameaçam Pantanal, diz ONU |
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Publicado pela Folha Online 22/03/2005 |
O Pantanal, considerada a maior área alagável do mundo, está seriamente ameaçado por problemas como o aquecimento global e o desenvolvimento descontrolado da região, segundo estudo realizado pela UNU (Universidade da Organização das Nações Unidas) em conjunto com o Prep (Programa Ambiental Regional do Pantanal, na sigla em inglês).
Em relatório divulgado nesta terça-feira, para marcar o Dia Mundial da Água, especialistas alertam para o que pode tornar-se \"o próximo Everglades\", em uma referência à famosa área pantanosa do Estado americano da Flórida, cujo ecossistema foi prejudicado por atividades agrícolas.
De acordo com o documento, simulações realizadas por computador indicam que, se a temperatura da terra aumentar em até 4ºC, cerca de 85% das áreas alagáveis da Terra, incluindo o Pantanal, desaparecerão.
Paulo Teixeira de Sousa Jr., diretor do Prep e pró-reitor de pesquisa da UFMT (Universidade Federal do Mato Grosso), disse à BBC Brasil que ainda não existem dados \"taxativos específicos\" sobre como o ecossistema brasileiro reagiria. Mas, para ele, o aquecimento global é o que mais pesa entre os fatores que ameaçam o Pantanal.
Peculiar
\"O Pantanal tem um ciclo hidrológico peculiar --passando metade do ano com águas baixas e a outra metade na cheia. Esse regime é determinante para o ecossistema da região e, se ele sofrer qualquer pertubação, pode haver sérias conseqüências\", afirmou Sousa Jr.
O diretor do Prep lembra que o Pantanal é uma região de estocagem e purificação de água, de proteção contra tempestades, e que atua fazendo o controle de enchentes e da temperatura. Ali vivem milhares de espécies, muitas delas em vias de extinção.
Além disso, áreas alagáveis hoje armazenam 17% do carbono emitido anualmente pela atividade humana. Mas, segundo o relatório da UNU, até 2100, \"a biosfera terrestre, que hoje é um depósito de carbono, vai se tornar uma fonte de produção de carbono\".
Para Sousa Jr., o impacto da ação humana local não é \"tão grave, pois ainda não é irreversível\".
\"Os problemas se dão na região que circunda o Pantanal e são causados pelo agronegócio --plantações de soja e de algodão, principalmente. Essas plantações, feitas em larga escala desde os anos 70, causam perturbações no solo e assoreamento dos rios, além de despejarem agrotóxicos que são drenados para os rios\", explicou o diretor do Prep. \"Mas também há a poluição dos centros urbanos próximos e o crescimento populacional.\"
Segundo ele, outro grande agravante foi a construção de uma hidrelétrica no rio Manso, próximo a Cuiabá (MT), que está perturbando o chamado \"pulso de inundação\" do Pantanal, que é o regime hidrológico da região.
Parcerias
Sousa Jr. destacou a importância de parcerias como as do Prep, que congrega universidades dos Estados do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul, além da UNU, para se tentar reverter a situação de ameaça ao Pantanal.
O programa inclui ainda organizações do Paraguai e da Bolívia, cujos territórios também contêm áreas do Pantanal. \"Uma das nossas iniciativas foi formular um Tratado de Cooperação do Pantanal, que permitiria aos três países elaborar políticas públicas em sinergia\", disse.
O diretor do Prep elogiou o envolvimento da população do Pantanal nas questões ambientais que envolvem a região. \"O que me deixa esperançoso é o alto grau de conscientização quanto à importância do uso sustentável do Pantanal.\"
\"Não temos o forte apelo internacional que tem a Amazônia, por exemplo, nem a densidade de cientistas e a quantidade de investimentos nacionais que tem a Mata Atlântica. É por isso que estamos trabalhando em rede e em cooperação com a UNU, numa tentativa de superar a carência de cientistas e de atenção internacional para o Pantanal\", concluiu
http://www1.folha.uol.com.br/folha/bbc/ult272u40780.shtml
Folha Online
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