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Mostra em Paris reúne beleza da arte tribal


Publicado pela Folha de S.Paulo 30/03/2005

(MICHAEL GLOVER)
A exposição das artes tribais do Brasil no Grand Palais de Paris, merece comparação com a grande mostra sobre as civilizações turcas que ocupa a Royal Academy, em Londres.
Ambas abarcam períodos extensos -no caso dos turcos, um milênio- e, em Paris, os mais antigos trabalhos expostos antecedem o nascimento de Cristo, enquanto os mais recentes são contemporâneos. A mostra no Grand Palais, que acontece até 27 de junho, faz parte dos eventos do Ano do Brasil na França.
A diferença fundamental entre as duas exposições é sua atitude com relação às suas respectivas audiências, e quanto à qualidade mesma do trabalho dos expositores. Na Royal Academy, a abordagem é persistentemente didática, quase intimidadora. A sensação é de que podemos nos afogar no material exposto. Em Paris, trata-se mais dos objetos, que nos são oferecidos para apreciação.
Cor, forma e esplendor decorativo. São essas as qualidades que persistem na mente. Questões enormemente complicadas referentes à política e à política da cultura -agrupamentos tribais, nacionalidades, colonialismo e muito mais- estão inegavelmente presentes (e são tratadas em sua plenitude no magnífico catálogo), mas o que importa acima de tudo na exposição em si é a estética, a beleza plena, ofuscante, dos objetos expostos.
Há quem possa argumentar -por exemplo, muitos dos antropólogos que trabalham entre as tribos ameríndias do Brasil- que a abordagem adotada está longe de ser a mais correta, porque macula seu objeto e o torna trivial ao remover as questões históricas e políticas. Mas os curadores, projetistas e selecionadores da exposição nos convencem a discordar.
Ainda que a exposição em Paris fale de "artes", a palavra abarca igualmente a idéia de "artesanato". Nenhuma das obras em exposição deixa de ser um objeto utilitário quer diretamente, como a grande armadilha de pesca, por exemplo, posicionada entre um andar e outro como se fosse uma instalação artística, quer indiretamente: decoração corpórea deve ser considerada como arte ou artesanato? Um cocar de penas é incomumente bonito ou peça central para certos rituais cujo significado já não é claro nem mesmo para os antropólogos? A resposta, claro, é que ambas as coisas são verdade.
Os objetos são "inutilmente" belos, e foram produzidos com propósitos específicos. Nenhuma das obras é atribuída a um artista individual. Não existe autoria, na exposição. Cada objeto é uma manifestação coletiva da vontade tribal e das necessidades tribais.
A montagem habilidosa é uma das chaves para o sucesso dessa exposição. Há constantes mudanças de ritmo e clima, à medida que passamos de uma galeria para outra. Grandes galerias são sucedidas por salas pequenas; passamos de uma área bem iluminada para uma sala dramaticamente obscura, de objetos em vitrines a tecidos pendurados do teto e paredes.
A primeira galeria propriamente dita nos exibe uma amostra de urnas funerárias de cerâmica decorada, da ilha de Marajoara, que podem ter sido produzidas entre os anos 400 e 1400. Trata-se de uma ilha fluvial, como milhares de outras no Brasil. As urnas são exibidas em pedestais circulares, e iluminadas de baixo, de modo que a luz que desliza pelas laterais torna os detalhes decorativos, todas aquelas estreitas espirais e ondulações, claramente visíveis. A estrutura longa e baixa, semelhante a uma mesa, sobre a qual as urnas foram montadas se parece com uma ilha, com contornos ondulantes, atenuados e arredondados pelo fluxo das águas.
Em frente à longa ilha de urnas repousam -sim, essa é a palavra exata- outras urnas funerárias, de natureza diferente. Essas urnas maracá são muito posteriores -datadas de entre 1400 e 1700- e exibem espírito radicalmente diverso. Trata-se de figuras humanóides em cerâmica, com braços em forma de cano e cabeças como baldes invertidos, todas elas agachadas em fileiras como membros atentos de uma audiência de cinema. Parecem parte de "O Mágico de Oz", se isso não constitui irreverência indevida.

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/acontece/ac3003200502.htm

Folha de S.Paulo

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