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José Saramago revisita o mito de Don Juan


Publicado pelo Estadão 01/04/2005

(Ubiratan Brasil)
Fã ardoroso da clássica ópera de Mozart, o prêmio Nobel de Literatura de 1998 José Saramago entusiasmou-se com a idéia do músico italiano Azio Corghi, que sempre gostou da musicalidade das palavras do escritor, de que ambos compusessem juntos uma ópera com ato único, original, para ser apresentada no Teatro Scala de Milão.
Depois de um ano de efervescente criação conjunta, os dois amigos criaram Don Giovanni ou O Dissoluto Absolvido, cujo texto a Companhia das Letras lança nesta semana. Trata-se de mais uma releitura do releitura de um conhecido "mito literário", o de Don Juan, nascido El Burlador de Sevilla (O Embusteiro de Sevilha), de Tirso de Molina, surgida em 1630.
Um de seus planos iniciais era fazer um Don Giovanni um tanto borgiano, talvez um pouco kafkiano, mas a idéia não foi concretizada. Por que? Pareceu, para o senhor, que a estratégia resultaria mais positiva do ponto de vista literário que dramatúrgico?
A resposta já está na pergunta. Um Don Giovanni não só borgiano, mas também kafkiano, seria um autêntico quebra-cabeças para o escritor que se arriscasse a tal empresa. Talvez no quadro de um romance isso fosse possível, mas seria preciso virar a personagem do avesso e transformá-la em algo que acabaria por ter pouquíssimos pontos comuns com o Don Giovanni tradicional em suas diferentes versões. E não era isso que pretendíamos, Azio Corghi e eu.
Quais outras obras o senhor gostaria de revisitar como fez com Don Giovanni?
Actualmente o meu trabalho está centrado no romance, em todo caso um romance menos interessado em contar histórias que em ser um veículo para a reflexão, como vem acontecendo desde Ensaio sobre a Cegueira. Não tenho projectos para a revisitação de outras obras, mas também é certo que nunca me tinha passado pela cabeça que um dia me atreveria com Don Giovanni...
No texto de introdução, o senhor lembra que decidiu aceitar o convite de Azio Corghi quando lhe surgiu uma boa idéia, mas, em seguida, faz uma ressalva: “suspeito agora de que não seria tão boa quanto ao princípio me tinha parecido”. O que pretendia dizer com isso?
Digamos que se tratou de uma manifestação de modéstia do autor... Verdadeira, ou falsa. No entanto, e com esta observação tento absolver-me, todos sabemos que a obra realizada é sempre uma imagem mais ou menos pálida da obra sonhada. Já não será mau que a distância entre uma e outra não seja demasiado grande.
Um veterano ator brasileiro, Walmor Chagas, encena atualmente um texto próprio em que, entre outras coisas, afirma que a musicalidade do texto de Shakespeare só é bem expressa e bem entendida em inglês - quando traduzido para o português, por exemplo, perde-se muito dessas qualidades. Ao escrever em português "Don Giovanni ou O Dissoluto Absolvido", o senhor se preocupava com a escolha das palavras de forma que, ao serem vertidas para o italiano, não perdessem sua riqueza própria, a despeito da proximidade entre o italiano e o português?
Houve alguém que disse que traduzir um verso é como empalhar um raio de lua. Toda a tradução é, ao mesmo tempo, traição e recriação. Walmor Chagas tem razão, tanta como se estivesse a referir-se, por exemplo, a uma tradução de Grande Sertão, Veredas para inglês. Quanto ao Don Giovanni, como não sei italiano, não podia estar a pensar em equivalências. E mesmo que conhecesse a língua, também não o faria. Confio absolutamente na minha tradutora italiana, Rita Desti. De alguma forma ela é também José Saramago quando traduz.
Seria o Coro a criação com mais inserções de Azio em relação aos demais personagens? E seria ainda o Coro aquele que mais contribui para ação desmistificadora pretendida pelo senhor?
O propósito desmitificador não se contém apenas na acção das personagens, quer individuais, quer “colectivas”, como é o caso do coro. Creio que conseguimos um bom equilíbrio entre as diferentes contribuições: musicais, textuais e dramatúrgicas.
Leia mais em:

http://www.estadao.com.br/divirtase/letras/noticias/2005/mar/31/179.htm

Estadão

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