A didática em salas de aula sem janelas |
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Publicado pelo Jornal O Estado de S.Paulo 04/04/2005 |
(Cristina Amorim)
O que era 'Black River' num livro didático se transformou em um mundaréu de água escura para um grupo de 12 estudantes americanos. Eles passaram uma semana no mês passado entre os Rios Negro e Solimões, na Amazônia, aprendendo sobre sua flora e fauna.Todos são alunos da Universidade do Estado de Nova York em Oswego, 11 deles do curso de Biologia e um de Ciências Sociais. A idéia era oferecer experiência internacional aos estudantes, inseri-los em um dos pontos de maior biodiversidade do planeta e tirá-los da sala de aulas. Para os jovens, a viagem ofereceu contato com atividades in situ, uma experiência essencial na formação de qualquer biólogo. 'Sou um cara da cidade, mas quero continuar com o trabalho de campo', afirma Billy Nichols, de 20 anos. 'É uma experiência educacional diferente', diz Jason Pringle, de 24.
O grupo ficou a bordo do barco Escola da Natureza, que a rede Objetivo/Universidade Paulista (Unip) mantém na Amazônia desde 1989 e onde ocorrem cursos periódicos para seus alunos. 'Nossa intenção é formar uma consciência ambiental possível quando a pessoa é jovem, além de fomentar o interesse à pesquisa', diz Wilson Malavazi, coordenador de projetos especiais da Unip.Assim como o grupo de Oswego, muitos professores e estudantes têm percebido o valor didático de sair da sala de aula tradicional e investir no aprendizado em campo, inclusive no Brasil. A vivência facilita a fixação do assunto, dizem os educadores. 'Quando surgem as dúvidas, é mais fácil explicar a resposta dessa forma. Além disso, a discussão acadêmica cresce', explica o professor de geologia Fabiano Tomazini, da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) em Sorocaba.Ele leva suas turmas para analisar aterros e empresas no interior do Estado desde o primeiro ano da graduação.CHEIRO DE PRÉDIONa Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), no Rio Grande do Sul, uma nova equipe de 'caçadores de prédios' se prepara. Neste mês, um grupo de estudantes do curso de Arquitetura e Urbanismo viaja para a Europa atrás de construções que só vêem em fotografias impressas em livros.A viagem será a terceira organizada pela universidade, após o sucesso e a alta procura de duas excursões anteriores.O assessor internacional da Ulbra, Leo Winterle - ele também é aluno de arquitetura -, explica que o grupo mistura duas experiências: a observação direta dos prédios e a prática dividida com profissionais locais, que fazem palestras para os alunos. 'São pontos de vista diferentes, por isso a vivência é importante', diz Winterle. 'O acesso que a gente tem através dos livros é histórico, fornece a localização e fotos artísticas.Uma vez no local, o aluno sente o cheiro, passa a mão, circula, observa os detalhes.' Antes de embarcar, o grupo participa de aulas preparatórias, quando traçam a rota. O mesmo foi feito pelos alunos americanos em Oswego, que estudaram previamente características sociais, políticas e econômicas do Brasil além das questões biológicas.O investimento de tempo e, às vezes, financeiro vale a pena também pelo estímulo dado ao pensamento acadêmico. Os trabalhos entregues como resultado da saída para o campo, assim como o desenvolvimento do próprio aluno como profissional, crescem com a experiência.De acordo com a professora Áurea Ciotti, do campus da Unesp em São Vicente, no litoral paulista, o número de bolsas de iniciação científica cresceu entre seus alunos como resultado do trabalho in situ, como a saída em um navio cedido pela Marinha para o curso de oceanografia. 'Estar em uma plataforma é uma experiência que não se pode passar na sala de aula. É mais eficiente explicar o tópico dessa maneira porque o aluno aprende na prática.'
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O Estado de S.Paulo
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