Brasil ajudará Angola a resgatar sua cultura |
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Publicado pelo Aprendiz 07/04/2005 |
(Rodrigo Zavala)
O que torna um povo forte, quando o país foi devastado por uma guerra civil de mais de três décadas, teve 500 mil de seus habitantes mortos, 4 milhões de pessoas deslocadas de suas terras, um quarto de seu solo minado, tornando-o intransitável? Uma das respostas possíveis é o resgate de sua cultura, em uma gradual redescoberta da identidade pátria estimulando a auto-estima de sua população.
Esse passo começou a ser dado pelo Ministério da Cultura de Angola ao criar uma comissão que redigirá a História da Literatura Angolana. Um projeto de construção coletiva, que une angolanos, portugueses e brasileiros. "O país possui uma das literaturas mais pujantes das nações africanas de língua portuguesa", lembra a professora de literatura africana de expressão portuguesa da Unesp, Tânia Macedo, que comandará a equipe brasileira.
De acordo com a especialista, a comissão foi selecionada pelo Ministério da Cultura para realizar uma compilação de informações cujo o fim são publicações resgatando sua história. "O material servirá de apoio a pesquisadores e estudantes, esclarecendo os leitores sobre os diferentes períodos e movimentos literários de Angola", explica.
O que justifica a necessidade do trabalho é mais do que clara. Logo depois da independência, garantida apenas em novembro de 1975, Angola passou de colônia portuguesa diretamente para um guerra civil entre as 10 etnias que habitam a região. Assim, as vozes representativas de uma autêntica cultura angolana foram reprimidas, no meio da ebulição política e social que o país passava.
Em meio a esse panorama, entre o colonialismo, independência e guerra, o Brasil, tal como Portugal, tiveram fortes vínculos na história da literatura, entre eles, Gilberto Freyre. Essa mescla pode explicar a libertação atual dos autores angolanos dos condicionalismos literários que suprimiram a criatividade de sua população, vista a extensa literatura oral encontrada nas diferentes etnias que constituem o povo angolano.
Um prova desses novos talentos que florescem às escondidas no arruinado país é o romancista José Eduardo Agualusa. No ano passado, foi o autor mais vendido no Festival de Literatura de Paraty, no Rio de Janeiro com o seu "O Vendedor de Passados".
Muito adequado para esta discussão, a obra conta a história de um albino que mora em Luanda, Angola, e que traça árvores genealógicas em troca de dinheiro. Estranho ofício, estranho personagem principal, Félix Ventura fabrica uma genealogia de luxo para seus clientes. São prósperos empresários, políticos e generais da emergente burguesia angolana que têm futuro assegurado, mas falta-lhes um bom passado.
A letra da canção que aparece logo no primeiro capítulo do livro, resume a idéia central: "Nada passa, nada expira / O passado é um rio que dorme / e a memória uma mentira multiforme”.
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