Depressão infantil demanda trabalho em conjunto |
|
|
Publicado pela Agência USP de Notícias 02/05/2005 |
(Flavia Souza)
União entre áreas clínicas pode tornar mais eficiente o tratamento contra depressão infantil
A doença costuma ser acompanhada por dificuldades de compreensão e produção de textos que permanecem mesmo após a superação do episódio depressivo
O trabalho conjunto entre o psiquiatra e o fonoaudiólogo, apesar de pouco difundido entre a comunidade médica, pode ser uma maneira eficiente de se lidar com a depressão infantil e os problemas de linguagem que dela decorrem. A recomendação é um desdobramento do estudo da fonoaudióloga e psicopedagoga Telma Pantano. A pesquisa, apresentada à Faculdade de Medicina (FM) da USP, abordou as relações entre depressão e dificuldade de se compreender e produzir textos.
Telma analisou os casos de 30 crianças e adolescentes deprimidos, com idades entre 10 e 14 anos, atendidos no Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas (HC). Segundo ela, é comum que nessa faixa etária o quadro depressivo esteja associado a problemas de produção, uso e compreensão da linguagem. "Ao contrário do que ocorre com o adulto, a depressão infantil se caracteriza por irritabilidade e agitação. Muitas vezes são as queixas escolares que estimulam os pais a buscar o auxílio do psiquiatra", explica a pesquisadora.
Num primeiro momento, sem a prescrição de medicamentos psiquiátricos, Telma avaliou a produção e a compreensão de textos de todos os pacientes. Durante os três meses seguintes, metade do grupo avaliado foi submetida a um tratamento com o antidepressivo Fluoxetina, e o restante recebeu placebo. Terminado esse período, a fonoaudióloga fez novos testes, avaliando novamente a produção e a recontagem de textos orais e escritos.
Conclusões
Telma verificou que as alterações textuais permaneceram tanto no grupo que recebeu medicamentos e obteve melhoras clínicas quanto entre aqueles que receberam o placebo. De acordo com ela, duas hipóteses podem explicar esse fato.
A primeira toma as dificuldades cognitivas e as alterações de linguagem como uma característica da depressão que permaneceria mesmo após a superação do episódio da doença. A segunda hipótese considera que, no caso da depressão infantil, costuma haver uma procura tardia pelo tratamento psiquiátrico. "Esse longo tempo de depressão faria com que esses indivíduos tivessem longos períodos de alterações no processamento da informação", afirma a pesquisadora. "Isso pode levar a alterações cognitivas e de linguagem mais persistentes que permaneceriam mesmo após o fim do episódio depressivo."
As duas hipóteses, entretanto, convergem para a associação entre depressão infantil e problemas de linguagem. Entre os 10 e os 14 anos de idade, por exemplo, ocorre o "desenvolvimento de questões mais complexas e abstratas relacionadas à capacidade lingüística", esclarece Telma. Esse processo pode ser afetado quando há a ocorrência de depressão nessa faixa etária. Nos casos em que há uma procura tardia pelo tratamento, podem ser prejudicados outros componentes lingüísticos cujo desenvolvimento coincide com a ocorrência do episódio depressivo.
Telma defende um trabalho conjunto entre o psiquiatra e o fonoaudiólogo. "É um erro pensar que um quadro de depressão nunca chegará ao fonoaudiólogo ou que o tratamento psiquiátrico seja suficiente para contribuir com a melhora de todas as queixas envolvidas no episódio de depressão", afirma. "Uma possibilidade seria a continuidade do tratamento com antidepressivos até que haja uma melhora significativa da capacidade lingüística."
http://www.usp.br/agen/compl/pixel_transp.gif
Agência USP de Notícias
Para mais informações clique em AJUDA no menu.
|