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A epidemia da beleza


Publicado pelo Aprendiz 10/05/2005

(Gilberto Dimenstein)

Movidos pela vaidade, pelo menos 130 mil crianças e adolescentes submeteram-se, no ano passado, a operações plásticas.

Essa é a estimativa da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, que, em pesquisa realizada entre seus 4.000 associados, detecta o aumento a cada ano de crianças e adolescentes dispostos a entrar na faca para ficar mais bonitos.

Qual a extensão desse servilismo à estética? A situação é mais grave do que se imagina. Pesquisa quantitativa e qualitativa (conversas em grupo) feita pela MTV sobre o perfil dos jovens brasileiros de 15 a 30 anos de idade, divulgada na quinta-feira, revela uma epidemia de preocupação com a beleza física.

Em parceria com o Datafolha, a MTV perguntou aos entrevistados, por exemplo, se trocariam 25% de inteligência pela mesma proporção de beleza. Resultado: 15% foram francos o suficiente para admitir a troca. Nem se preocuparam com o fato óbvio de que a beleza física passa rapidamente, mas a inteligência fica.

Fiquei me perguntando se os jovens dispostos à troca já não teriam um QI não muito elevado. A julgar pela pesquisa, o problema não está no QI. Trata-se de um mal que afeta parte expressiva de uma geração das classes A, B e C, ou seja, da fatia da sociedade em que se inclui a elite.

O principal resultado desse perfil é ter detectado até que ponto vai a reverência exacerbada à beleza física. Convidados a definir os traços que melhor definem a atual geração, os entrevistados colocaram em primeiro lugar -e bem na frente- a vaidade. Depois, aparecem o consumismo, o individualismo e o comodismo.
Por que está ocorrendo essa "epidemia da beleza"? A resposta é óbvia -e nós, da mídia, somos, em parte, responsáveis por isso.

Há uma supervalorização da aparência. Seres anoréxicos e fúteis, quase inumanos, como Gisele Bündchen, são apresentados como padrão de beleza e de sucesso. A mídia, por sua vez, não se limita a fotografá-los, mas freqüentemente busca suas opiniões sobre os mais diversos temas, de política a transgênicos.

Dissemina-se um culto à celebridade, que dá lugar ao surgimento de uma espécie de casta na sociedade, a casta dos "famosos". E, para ser famoso, não é preciso necessariamente fazer algo de relevante -basta aparecer.

É o domínio da fugacidade. A internet, na sua extraordinária velocidade em tempo real, é a síntese tecnológica da voracidade do presente, do agora.

A pesquisa mostra, de um lado, o narcisismo entre jovens e, de outro, um ceticismo. São as duas faces de uma mesma moeda. Políticos são sempre ruins, independentemente dos partidos. Logo os governos são iguais. Na opinião de 64% dos entrevistados, o governo Lula está igual ou pior do que o de seu antecessor.

O jeito, portanto, é o salve-se-quem-puder. Se não existem utopias -e toda utopia é um pacto com o futuro- nem se acredita na política, sobra apenas a saída individual.

Até porque a mensagem predominante é a do consumismo como fonte de prazer e de realização. Vale perguntar se esse imediatismo não é um estímulo ao consumo de drogas.

As próprias relações pessoais acabam refletindo esse imediatismo individualista. "Ficar" significa namorar sem estabelecer nenhum laço emocional -laços emocionais implicam compromisso. Vale a pena reproduzir consideração dos pesquisadores da empresa Wilma Rocca & Associados, responsável pela análise dos dados do levantamento, sobre o tópico "ficar": "O próprio ficar já está derivando seu sentido para algo mais superficial, onde sentimentos, ainda que momentâneos, já chegam a estar totalmente ausentes".

Servis ao ideal da beleza física, pais abrem mão da condição de adultos, como se quisessem prolongar a adolescência. Não querem ser pais de seus filhos, mas amigos. Não cobram, não dão limites, não exigem -assim como, quando eram adolescentes, não queriam cobranças paternas. O pai muito amigo é, porém, um candidato a futuro inimigo do filho. "Os filhos já evidenciam certo desconforto com a ausência da porção pai e o excesso do lado amigo", observam os pesquisadores.
Leia mais em:

http://aprendiz.uol.com.br/content.view.action?uuid=c27f856c0af4701001d381d2e5f1acdf

Aprendiz

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