Museu Afro-Brasil lembra o 13 de Maio |
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Publicado pelo Jornal O Estado de S.Paulo 13/05/2005 |
Atividades e inaugurações de biblioteca e de anfiteatro marcam o Dia da Abolição da Escravatura
(Camila Molina)
Carolina Maria de Jesus (1914-1977) é a negra que segura um lápis, como já disse ao Estado o cineasta Jéferson De, não o negro que segura armas, imagem tão explorada e estigmatizada nos filmes e tantos meios. Em seu premiado curta-metragem Carolina, o diretor mostrou a vida dessa mulher, neta de escravos, semi-analfabeta, que na obra Quarto de Despejo, de 1960, relatou o dia-a-dia na Favela do Canindé, em São Paulo. O livro, de forte denúncia social, de escancaramento da pobreza, foi traduzido para dezenas de países, tornou-se um ícone.
Catadora de papel durante o dia e escritora pela noite, é Carolina Maria de Jesus quem dá nome à biblioteca que será inaugurada hoje no Museu Afro-Brasil entre tantas outras atrações que a instituição vai promover para marcar o 13 de maio, Dia da Abolição da Escravatura. (Leia ensaio na página 12) São homenagens, mostras, apresentações e exibições numa programação eclética que começa pela manhã e se estende até o quase fim do dia. \"A função do museu é pensar, repensar, desconstruir e construir idéias. É o começo de reflexão sobre a campanha abolicionista no Brasil e o fracasso dela. O museu não pode deixar a data fora de sua programação, mesmo que o 13 de maio seja alienado, fracassado. Mas a história também é feita de fracassos\", diz Emanoel Araújo, ex-secretário de Cultura do município de São Paulo e diretor do Museu Afro-Brasil.
Às 11 horas, será o lançamento do próximo enredo da Escola de Samba Nenê de Vila Matilde, Odisséia Negra-Mamma Bahia - Ópera Negra Lidia de Oxum. Já as outras atividades continuam às 17 horas, com a performance Carolina, o Luxo do Lixo, do ator Wilson Rabelo. A Biblioteca Carolina Maria de Jesus será inaugurada depois, às 19h30, assim como a abertura de exposição com manuscritos, fotos e documentos sobre a escritora. A biblioteca especializada no assunto dos negros e patrocinada pela Nestlé, terá 2 mil títulos - entre eles, teses inéditas, livros sobre arte contemporânea, arte africana, antropologia, etnologia e obras literárias. Na mapoteca estarão abrigadas fotografias e gravuras originais de Debret e Rugendas, tudo em torno do negro. Emanoel Araújo diz que mais adiante será aberto um Centro de Referência com ênfase na oralidade.
É também com a exibição do filme Carolina, de Jéferson De, que será inaugurado o Anfiteatro Ruth de Souza, a outra grande homenageada do dia. Ela foi a primeira atriz negra a atuar no Teatro Municipal do Rio. \"Carolina e Ruth tiveram seus papéis bem definidos\", diz Araújo sobre a escolha de seus nomes. No anfiteatro, com 150 lugares, também o coral Cantafro se apresentará hoje.
E há também a abertura da exposição O Tigre de Dahomey, A Serpente de Whydah, de Mario Cravo Neto. Nela estarão 43 fotografias, de grande formato. Em todas elas está presente o imaginário religioso e profano do patrimônio africano. \"Ele é um artista que traz de volta os laços ancestrais entre a África e o Brasil, um elo que não foi perdido mesmo com a brutalidade da escravidão\", diz Emanoel Araújo. É o museu da diversidade, como ele diz. O evento ainda contará com apresentação da Cia. de Dança Sociedade Masculina e será fechado com performance musical de Naná Vasconcelos.
http://txt.estado.com.br/editorias/2005/05/13/cad024.html
O Estado de S.Paulo
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