Comércio de teses torna-se fonte de renda |
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Publicado pelo UniversiaBrasil 06/06/2005 |
Pesadelo para muitos professores, a elaboração de monografia é o ganha-pão de profissionais que vêem nela uma das formas para garantir renda extra ou até mesmo fugir do desemprego.
O administrador de empresas Reinaldo Silva, 39, só investiu em teses quando sua empresa de informática faliu, em 1999. "Até o fim do ano, pretendo viver apenas com o meu trabalho como consultor na área empresarial", projeta. "Não é uma atividade ilegal. Mas também não acho certo fazer teses para os outros."
Para o professor de direito da PUC-SP José Roberto Gusmão, o autor do texto pode responder por falsidade ideológica. "Ainda que a pessoa diga que fez apenas um levantamento bibliográfico para o estudante, o anúncio na internet confirma que se trata de elaboração de monografias e de teses. Isso é ilícito", analisa.
Financeiramente, a elaboração de monografias parece ser atrativa. A página chega a custar mais de R$ 20. Alguns profissionais oferecem trabalhos a um valor predeterminado, que passa de R$ 1.500, conforme o tema.
Em média, os ganhos variam de R$ 4.000 a R$ 6.000 por mês. Nas épocas de muita procura, como nos fins de semestre, esse montante pode ultrapassar R$ 10 mil.
Há 12 anos, quando os dividendos com os trabalhos escolares superaram os do emprego em uma multinacional, a contadora Cláudia Galo, 31, passou a se dedicar somente às monografias.
Mas viver de teses e dissertações não é o sonho da atual estudante de direito. "Vou me formar neste ano e quero advogar", planeja. "Ganharei experiência para iniciar o mestrado e, mais tarde, lecionar", diz Galo, que ainda não começou a planejar seu próprio trabalho de conclusão de curso.
Incluir o trabalho atual no currículo pode inviabilizar as chances de conquistar um emprego em outra área. "A maioria dos selecionadores questionaria o profissional caso ele citasse que elaborava monografias para estudantes de graduação", estima a gerente de recrutamento e seleção da consultoria Manager, Neli Barboza.
Segundo ela, a elaboração de trabalhos escolares com fins comerciais não é bem-visto no mercado. "[Fazer monografias] mostra uma flexibilidade de valores. Se a pessoa abriu essa exceção uma vez, quem garante que não fará isso novamente?", questiona.
Psicologia do trabalho Para a atriz A.B., 27, a atividade de monógrafa começou por acaso. No último ano de artes cênicas, teve de elaborar relatórios de trabalho. Começou com o seu e ajudou a digitar os dos colegas.
Em 1998, quando ficou desempregada, passou por faculdades da zona sul de São Paulo com panfletos em que oferecia seus préstimos de digitadora. "Não sabia que esse era um termo usado pelas pessoas que fazem monografia para divulgar seu trabalho."
Começou a receber telefonemas de alunos, solicitando pesquisas e teses de mestrado. "Fiz até trabalho sobre inseminação artificial."
Entre tantos temas sobre os quais se debruçou, a atriz gostou de psicologia. Passou no vestibular e está no terceiro ano da graduação. Mas não saiu distribuindo currículos. Prestou concurso público e já trabalha na área.
"Hoje, quero saber apenas de recursos humanos. Não recebo mais dinheiro para fazer trabalhos. Estou preocupada apenas com os que tenho de fazer para a universidade", conta.
http://www.universia.com.br/noticia/materia_clipping.jsp?not=22997
Folha de S.Paulo
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