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Grandeza de comportamento é a melhor lição


Publicado pela Folha /Equilíbrio 07/097/2005

(ROSELY SAYÃO)
O mundo público -no qual a gente passa a maior parte do tempo- está desordenado, hostil, agressivo, bem pouco acolhedor. Já escrevi aqui que isso faz muito mal às crianças, que acabam confinadas e com muitos limites para viver. Mas o mal não é só esse: a convivência entre adultos que circulam pelas cidades e utilizam os seus recursos também está bastante prejudicada, o que coloca em risco a vida civil no futuro próximo. E nesse tempo serão nossos filhos que viverão nesse ambiente.
Será que os pais acreditam que o filho possa ser melhor do que eles são e foram? Esse é um requisito fundamental para a educação
A criança, que está atenta e de olhos bem abertos a essa vida, vê como os adultos se relacionam e se educa também com essa observação. À educação que ela recebe em casa e na escola é acrescida essa que ela testemunha. Creio mesmo que a influência de tudo o que a criança presencia no mundo que a rodeia é bem maior do que a da televisão, que costuma ser a vilã quando contabilizamos as fontes de más influências na vida das crianças e no seu desenvolvimento. É que a criança sabe muito bem que o que vê na televisão -com exceção de noticiários- é ficção e que o que testemunha nas ruas é a mais pura realidade, é a vida como ela é.
Interessante é o modo como os educadores costumam reagir quando se perguntam a respeito de como querem educar seus filhos ou alunos. Quase todos afirmam que gostariam que o filho fosse diferente do que observam por aí, que soubesse respeitar o mundo no qual habita, que pudesse colaborar para estabelecer boas relações de convivência com os outros, que pudesse, enfim, fazer diferença nesse mundo carente de relações respeitosas, que aprendesse a agir com a responsabilidade de cidadão. Mas quase todos também acreditam que, ao ensinar esses princípios e cobrar tais atitudes dos filhos, provocariam o isolamento social dele, fariam com que fossem considerados "babacas" por seus pares.
Essa atitude mostra uma grande impotência dos pais perante a tarefa educativa e perante os filhos. Eles querem que o mundo que vai receber seus filhos seja melhor, mas não acreditam que o próprio filho possa contribuir para isso. Esperam que sejam os outros a fazer essa parte, que consideram difícil. Será que os pais acreditam que o filho possa ser melhor do que eles são e foram? Esse é um requisito fundamental para a educação.
Um fato que pude testemunhar nesta semana provocou esta reflexão. Estava caminhando pelas ruas de meu bairro quando, em sentido contrário àquele em que eu ia, vinha uma mulher de uns 30 anos, segurando a correia de um cão. Ela não estava levando o cachorro para passear, estava sendo guiada por ele porque, logo percebi, era cega.
Em determinado momento, o cão mudou rapidamente de direção e foi até o meio-fio da calçada. Esse movimento não esperado do cão guia surpreendeu a mulher, que pareceu ficar, por alguns segundos, um pouco desorientada. Abaixou-se, passou a mão pelo corpo do cão e percebeu que ele estava com a parte traseira um pouco abaixada. Estava fazendo cocô.
Eu já fiquei admirada com o fato de o cão ter sido treinado para não depositar as fezes no meio da calçada. Mas o mais emocionante ocorreu logo a seguir. Assim que o cão terminou de fazer sua necessidade, a mulher tirou do bolso um saco plástico e, tateando, encontrou e recolheu o cocô do cão.
A grandeza do comportamento dessa mulher vai além de um bom exemplo, o que, aliás, é tema de uma propaganda do governo na televisão. Ela agiu como uma cidadã responsável e madura, consciente de que o espaço público é de todos nós e, portanto, precisa ser cuidado por todos pelo bem-estar coletivo. Impossibilitada de enxergar, essa mulher vê com clareza seu dever social, mesmo que seus direitos não sejam tão respeitados. E quantos são os que enxergam, mas não são capazes de ver sua implicação e seus deveres na relação com o espaço comum, não é verdade?

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/equilibrio/eq0707200509.htm

Folha de S.Paulo

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