Alta tecnologia pode criar abismo social |
|
|
Publicado pelo O Estado de S.Paulo 19/07/2005 |
Investir em ciência e tecnologia, quem diria, pode ter um viés amargo para o Brasil: um abismo ainda mais profundo entre uma classe pequena de favorecidos e a maioria da população, que não tem acesso às mesmas condições econômicas e culturais. "Com todo o desenvolvimento tecnológico há um desequilíbrio social muito grande", disse o pesquisador Paulo Emílio de Miranda, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na 57ª Reunião Anual da SBPC.
Para Miranda, o abismo tende a aumentar se não existir a transferência de tecnologia para a população mais necessitada - e tecnologia, diz ele, não são apenas computadores de última geração, mas óculos e atendimento médico. "É preciso transferir o conhecimento para equiparar o IDH (índice de desenvolvimento humano) com o crescimento tecnológico", afirma.
Ele justifica a proposição ao lembrar que "25%, em média, do PIB de países desenvolvidos vêm de bens imateriais, como o conhecimento tecnológico" - adquirido muitas vezes por nações em desenvolvimento como o Brasil, que por sua vez não produzem conhecimento no mesmo ritmo em que precisam consumir.
"O valor agregado que há na tecnologia restringe o benefício da ciência à sociedade", afirma. "A perspectiva no Brasil é de que haja um crescimento tecnológico, o que pode levar a mais pobreza e miséria." Ele cita, como exemplo, um equipamento produzido na UFRJ, cujo preço é R$ 11 mil, mas custa pouco mais que R$ 1 mil para ser fabricado - a diferença vem do valor agregado, como todo o conhecimento que foi gasto para chegar ao protótipo e a qualificação de quem constrói o aparelho.
A visão é oposta à propagada por pensadores que defendem o investimento na área para reduzir as diferenças sociais. Segundo Miranda, o País não tem hoje condições de usar só o conhecimento produzido por brasileiros para promover o crescimento. Ele acredita que o quadro pode começar a mudar em alguns anos como conseqüência dos investimentos feitos na formação, nos últimos 30 anos, de profissionais capacitados.
http://txt.estado.com.br/editorias/2005/07/19/ger004.html
O Estado de S.Paulo
Para mais informações clique em AJUDA no menu.
|