Ensino bilíngüe desenvolve o cérebro |
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Publicado pelo O Estado de S.Paulo 10/10/2005 |
Criança alfabetizada em mais de um idioma tem mais conexões cerebrais, ajudando a criatividade e o raciocínio
(Claudia Ferraz)
A alfabetização dos filhos em mais de um idioma pode parecer confusa para alguns pais, mas para especialistas é uma forma positiva de desenvolver o cérebro das crianças: aumenta as conexões cerebrais, melhora o raciocínio e desenvolve a criatividade. Mundialmente difundido, o ensino bilíngüe, no entanto, ainda engatinha no Brasil, que tem cerca de 60 escolas, 8% delas em São Paulo.
Para discutir e estimular essa forma de ensino no País foi realizada na semana passada a 1ª Conferência das Escolas Brasileiras Bilíngües. \"O Uruguai tem o mesmo número de escolas que o Brasil, mas, comparando com a população, ficamos muito atrás\", afirma Lyle Gordon French, diretor pedagógico da escola bilíngüe Play Pen, em São Paulo. \"Tem mais escolas em Lima, no Peru, do que aqui\", complementa. Já a Argentina tem 110 escolas e o Chile começa a implantar algumas.
\"Bilíngüe são as pessoas que aprendem todas as habilidades em duas línguas. Sabem ler, escrever e falar em português e inglês, por exemplo. Mas também aprendem matemática, ciências e outros assuntos. Não é preciso ser perfeito nas duas línguas para ser bilíngüe\", explica um dos convidados do evento, o professor de Psicologia na Universidade de McGill, no Canadá, Fred Genesee, considerado um dos maiores especialistas no assunto.
Com a experiência de quem analisou por três décadas habilidades de crianças e jovens de até 16 anos que foram alfabetizadas em francês e que falavam inglês em casa, ele conta que elas têm um nível superior na língua materna do que quem fala apenas uma língua. Além disso, desenvolvem melhor as habilidades intelectuais e podem se tornar mais criativas.
Isso porque ao conhecer dois idiomas, elas ampliam seus conhecimentos. Num exemplo do professor, é como se uma criança que só fala uma língua usasse óculos azuis e só enxergasse em azul. Ou como quem mora em uma cidade e só conhece aquela maneira de viver.
FACILIDADES
Segundo pesquisas internacionais, os padrões de atividade do cérebro ao aprender outra língua mudam com a idade. No adulto, as conexões usadas na língua materna ajudam na hora de aprender outra, desde que ela não seja muito diferente. \"Nas crianças não há essa diferença porque o cérebro está \'novo\'. Elas usam as primeiras palavras ao mesmo tempo, então qualquer língua terá a mesma dificuldade. Por isso, é importante ter contato com a língua o mais cedo e pelo maior tempo possível\", diz.
Um dos primeiros estudos do tipo com a língua portuguesa, feito com 40 pessoas entre 19 e 36 anos, mostrou que quem aprendeu inglês na infância distingue melhor os sons do que quem aprendeu depois. O autor, Rodrigo Collino, do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP), demonstrou em brasileiros conclusões de uma pesquisa da University College London, publicada na revista científica Nature.
\"O computador falava palavras que apresentam sons confusos para brasileiros , como bed (cama)e bad (mau), e a pessoa tinha de distinguir o que ouvia. Quem aprendeu inglês quando criança acertou bem mais\", explica Collino. \"Acredita-se que quanto mais cedo aprendemos outra língua, a atividade cerebral dela se aproxima da região da língua materna.\"
A escrita também não se torna um problema. \"Para ler, temos de saber as conexões que correspondem às palavras e perceber a gramática entre elas. Quando você tem uma concepção de como ler você pode fazer isso em qualquer língua. A alfabetização é uma só, não importa qual seja a língua\", resume Genesee.
http://txt.estado.com.br/editorias/2005/10/10/ger010.html
O Estado de S.Paulo
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