As câmeras chegam às salas de aula |
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Publicado pelo O Estado de S.Paulo 04/11/2005 |
(Roberta Pennafort)
Primeiro elas apareceram nas áreas comuns das escolas, como pátios e corredores. Agora começam a ganhar também as salas de aulas.
O monitoramento de estudantes por câmeras de vídeo está se popularizando no Rio e em São Paulo. O objetivo da direção dos colégios não é só observar de perto o comportamento dos alunos, mas também coibir furtos de objetos, muitas vezes fruto de brincadeiras entre colegas.
As conversas que atrapalham as aulas e as guerras de bolinhas de papel já não são tão intensas no Colégio Ícaro, na zona oeste do Rio, que faz parte de uma rede com mil alunos. Desde junho, quatro turmas do ensino médio e fundamental estão sob vigilância das câmeras, também colocadas nas áreas comuns.
'A câmera é, hoje, um aliado fundamental. Os alunos não gostaram, mas os pais acharam ótimo', atesta Roberto Barreto, coordenador dos professores.
Segundo ele, o equipamento ajuda a identificar crianças e adolescentes que riscam as paredes e aquelas que furtam celulares, walkmans, estojos e cadernos. Neste ano, o roubo de uma bicicleta de um garoto do 1º ano do ensino médio, que havia sido deixada no pátio, foi solucionado rapidamente. 'As imagens mostraram que um aluno do 2º ano tinha roubado.
Chamamos o pai e ele ficou chocado quando viu a cena gravada.' As imagens são vistas apenas por funcionários. As da área externa são acompanhadas em tempo real; as das salas são gravadas e vistas depois, caso haja algum problema. Alguns pais já pediram para ter acesso às cenas - a possibilidade está sendo estudada pela direção. O sistema custou R$ 20 mil.
Psicóloga e doutora em Educação, Eloiza de Oliveira, diretora da Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, é contra essas medidas. 'A câmera cria um falso conceito de disciplina, que deve ser construída de dentro para fora, e não mediante a imposição do controle', observa.
Para ela, o adolescente monitorado acaba formando uma noção dupla de moralidade, ou seja, comporta-se bem diante das câmeras e se transforma quando longe delas. 'O simples monitoramento não resolve. Se o menino quer furtar e não pode mais fazer isso na sala, vai fazer em outro lugar', explica. Outro problema: o jovem que é tutelado não consegue refletir sobre seus atos.
Eloiza aponta também a questão ética e afirma que, mais importante do que coibir desvios dos estudantes, é entender quais razões emocionais os levaram a agir de forma errada.
Como professora, a especialista reprova as câmeras, por achar que elas atrapalham o relacionamento com os alunos.
Para a coordenadora do Programa Escola da Família da Secretaria Estadual de São Paulo, Cristina Cordeiro, apenas vigiar não garante a solução dos conflitos. 'Por isso assumimos um projeto de aproximação da comunidade com a escola.
Acredito que é assim que aumenta o desempenho dos alunos.' A alternativa do Colégio Magno/Mágico de Oz, de São Paulo, para que os pais fiquem tranqüilos e os alunos se sintam livres é a câmera rotativa. Em eventos esportivos, festas ou viagens, os pais são avisados e acompanham os filhos online. 'Por exemplo, temos o núcleo ambiental e quando um carneiro é tosado levamos a câmera. Isso serve para aproximar os pais da escola', disse Myrian Tricate, diretora do colégio.
LEI
As escolas brasileiras podem ter de aderir a esses equipamentos, mesmo que o tema divida opiniões. Desde agosto, tramita no Congresso Nacional o projeto de lei 5.736/05, do deputado federal Vieira Reis (PMDB-RJ), que prevê que todos os colégios sejam obrigados a oferecer aos pais o acompanhamento de seus filhos via internet. A intenção do parlamentar é permitir que a formação dos jovens seja observada de perto.
Desde que abriu as portas, há cinco anos, a Pedra Vigilância e Segurança Empresarial já instalou câmeras em dez escolas de toda a cidade. O mais comum é vigiar pátio, corredores, entrada e salas da administração - as salas de aula, não. 'Isso é mais complicado, tem de ter autorização dos pais', afirma o responsáv
http://txt.estado.com.br/editorias/2005/11/04/ger013.html
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