Filhos: Superproteção é a melhor solução? |
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Publicado pelo Globo Online 07/11/2005 |
(Ângela Góes)
Em 2003, crianças e adultos de todo o mundo se emocionaram com o filme "Procurando Nemo", que conta a saga de dois carismáticos peixinhos: o supercauteloso Marlin e seu filho, o curioso Nemo. Viúvo, Marlin assume a responsabilidade de criar o filho sozinho, protegendo-o de todos os perigos. Apesar de bem-intencionado, o pai erra na mão e sufoca Nemo com tanto cuidados. Resultado: na tentativa de provar que é capaz de se virar sozinho, Nemo se mete em confusão. A história é infantil e tem final feliz garantido. Na vida real, a 'Síndrome de Marlin', como vem sendo chamada a superproteção paterna, tem sido motivo de preocução.
É tênue a linha que separa a proteção da superproteção. Quem ama, claro, cuida. Em doses normais, cuidado não traz prejuízo. Já o exagero pode trazer mais malefícios do que benefícios.
Segundo a terapeuta Zulma Taveiros Guimarães, do Núcleo de Casal e Família da Sociedade de Psicanálise do Rio, crianças superprotegidas se tornam adultos dependentes, inseguros, imaturos e medrosos, sem autonomia e incapazes de tomar decisões.
- Quem cresce esperando que alguém sempre lhe dê todas as respostas, as fórmulas prontas, não desenvolve a capacidade de pensar soluções criativas para lidar com imprevistos. Não cria imunidade para se proteger quando está sozinho - diz Zulma.
Falando assim, parece fácil. Mas só quem é pai ou mãe sabe o drama de educar o filho em um mundo cada vez mais violento. Crianças, jovens e adultos estão mais expostos a certos perigos do que há alguns anos. Nessa conjuntura, é normal querer adiar certas liberdades, a fim de evitar que os filhos fiquem expostos a perigos reais e concretos. Até certo ponto, isso se faz necessário. Mas é preciso tomar muito cuidado para não usar a violência como desculpa para que os filhos não assumam responsabilidades para as quais estão prontos.
- O ser humano aprende com as adversidades, com erros e acertos. Pessoas resilientes são aquelas que vivenciam as dificuldades e saem fortalecidas dessas experiências - afirma a pedagoga Sônia Mendes, da Associação de Terapia Familiar do Rio.
Segundo especialistas, o problema é que os pais estão com medo de tudo. E acham que podem evitar a violência, os acidentes de carro, as drogas e a sexualidade precoce prendendo os filhos dentro de casa. Uma ilusão. Engana-se o pai que acredita que pode anular todos os riscos a que o filho está exposto. Essa tentativa pode até ter um efeito indesejado. O filho pode rejeitar a superproteção e furar o esquema de segurança imposto, expondo-se ainda mais.
- A melhor proteção que um pai pode oferecer ao filho é dar responsabilidade para que ele faça suas próprias escolhas, avaliando primeiro as necessidades e possibilidades de cada faixa etária - aconselha a filósofa e educadora Tânia Zagury, autora de "Encurtando a adolescência" (Ed. Record).
Para o psiquiatra e educador Içami Tiba, os superprotegidos são os que mais correm riscos, pois fazem coisas escondidas.
- Os pais erram achando que os seus filhos são diferentes dos outros, melhores que os outros. Erram ao enxergar os filhos como vítimas de más companhias - alerta.
Ter discernimento sobre o que é ou não é realmente perigoso; saber o momento certo de prendê-los e soltá-los não é tarefa fácil. É preciso sensibilidade e atenção.
- É importante que os pais reflitam, conversem com outros pais, outros filhos, psicólogos e educadores. É bom ouvir opiniões, discutir estratégias. As trocas são muito positivas e podem apontar caminhos. Só não vale esperar por fórmulas prontas. Isso não existe - conclui Zulma.
http://oglobo.globo.com/especiais/vivermelhor/mat/189045666.asp
Globo Online
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