24 horas à altura de São Paulo |
|
|
Publicado pelo O Estado de S.Paulo 21/11/2005 |
(Adriana Carranca, Moacir Assunção, Fabiano Rampazzo e Marcia Glogowski)
À meia-noite, os termômetros marcavam 26 graus no centro de São Paulo. Dali a uns minutos choveu forte, durante uma hora. Mas depois as calçadas voltaram a ficaram cheias - com crianças, galeras, velhinhos -, assim como teatros, cinemas e locais de shows. Tudo por causa da Virada Cultural, organizada pela Prefeitura, que ofereceu uma maratona de 250 eventos gratuitos das 14 horas de sábado às 14 de domingo. A Virada teve altos e baixos, mas mostrou que São Paulo pode ser diferente - para melhor. "É muito boa essa iniciativa e o metrô funcionando 24 horas facilita tudo. Aliás, ele poderia ficar sempre aberto à noite", disse o bancário Paulo Henrique Antunes Pereira, de 24 anos, que foi assistir a uma peça na Casa das Rosas, na Avenida Paulista, às 2 horas.
Pereira escolheu o teatro. Outros, como o estudante Cléber Alexander Nunes, de 18 anos, fizeram de tudo. Às 11 horas ele se esbaldava na pista do clube de techno D-Edge, na Barra Funda, que aproveitou a Virada e ampliou o after hours ( "Saí de casa às 2 da tarde (de sábado). Acabamos de tomar o café da manhã no Sesc Pompéia. Antes estive no Mercado Mundo Mix, num sarau na Vila Madalena, no show do Tom Zé no Anhangabaú", disse, enquanto procurava amigos na pista. "Preciso achar eles logo, senão a gente se atrasa pro show da Adriana Calcanhotto à 1 da tarde no Ipiranga."
A programação variada fez muita gente descobrir coisas que passam despercebidas no dia-a-dia. Pôde conhecer, por exemplo, um Jardim da Luz escuro e silencioso em visitas monitoradas iluminadas só com lanternas no sábado à noite. Uma curtição para crianças como Luiz Fernando Ramos Júnior, de 12, que ficou intrigado com a escultura A Portadora de Perfume, de Victor Brecheret. "Ela começa gorda e termina magra." A procura pelo passeio surpreendeu. Em duas visitas, foram quase 200 pessoas.
A Virada teve públicos de todos os tamanhos. O maior foi o do Festival de Música Gospel, que levou mais de 25 mil pessoas ao Anhembi. O menor talvez tenha sido o casal Marisa Kakazo e Osvaldo de Araújo, única platéia da sessão das 4 horas de Cidade de Deus num cinema itinerante na Vila Maria.
A Prefeitura admitiu que faltou divulgação e alguns eventos não vingaram, como a roda de samba de raiz na Freguesia do Ó, zona norte. Mas em pontos da periferia a Virada pegou, como o Largo de Piraporinha, zona sul, onde um show de rappers atraiu 2 mil pessoas.
Moradores da periferia também se divertiram no centro, graças a esquemas especiais de transporte. O Teatro Municipal, todo iluminado, lotou para o show da cantora Fortuna, que começou à meia-noite. Um grupo de 50 adolescentes de Cidade Tiradentes, zona leste, se encantou com a arquitetura. Jeferson de Oliveira, de 15 anos, só conhecia o Municipal por fora, quando ia para a Rua 25 de Março com o tio, camelô. Era com ele que o menino trabalhava antes de entrar para o projeto social Ação Comunitária Tiradentes, que o levou ao centro. "Já tinha ido num teatro, mas este é muito mais bonito, ô se é."
A situação de Anderson Lopes Miranda, de 30 anos, era bem diferente. Ele já havia sido levado ao Municipal, quando morava em um albergue. Há dois meses longe das ruas - após longos 15 anos -, quis voltar. Só lamentou não poder levar a mulher, grávida de Maria, a primeira filha do casal, que se conheceu nas ruas do centro. Hoje, depois de arrumar emprego, os dois alugam um apartamento por R$ 150,00, na Liberdade. "Prometi que um dia voltaria aqui pelas minhas próprias pernas."
Apesar de tanta gente nas ruas, a polícia não registrou ocorrências nos locais das 250 atrações. Nenhuma briga, confusão, assalto? "Nenhuma. Foi bonito ver famílias andando a pé pelo centro de madrugada", garantiu o inspetor da Guarda Civil Metropolitana Carlos Eduardo Padilha, responsável pela segurança da maratona de eventos. "A Virada foi uma celebração do lado bom de São Paulo", disse o secretário-adjunto de Cultura, José Roberto Sedek.
http://txt.estado.com.br/editorias/2005/11/21/cid002.html
O Estado de S.Paulo
Para mais informações clique em AJUDA no menu.
|