Carinho ajuda cérebro da criança a se desenvolver |
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Publicado pelo O Estado de S.Paulo 25/11/2005 |
Ele atua na região responsável pela formação de laços sociais
(Kate Ravilious)
Privar crianças pequenas de carinho e atenção muda de forma sutil a maneira como seus cérebros se desenvolvem e mais tarde pode deixá-las ansiosas e com dificuldades de se relacionar, segundo um estudo publicado nesta semana na revista médica Proceedings, da Academia Nacional de Ciências. Amor e afeição dos pais e responsáveis são vitais para o desenvolvimento das regiões do cérebro associadas com o stress e a formação de laços sociais, descobriram os pesquisadores.
Seth Pollack, psicólogo da Universidade de Wisconsin, e colegas compararam o progresso de crianças criadas pelos pais biológicos nos Estados Unidos com crianças provenientes de orfanatos lotados na Rússia e na Romênia adotadas por casais americanos.
\"Quando essas crianças órfãs eram bebês, havia tão poucos adultos por perto que raramente um estava disponível para responder às suas necessidades\", disse Pollak.
As crianças dos grupos têm idade média de 4,5 anos e os órfãos estão reunidos com seus pais adotivos há dois anos e dez meses em média. Dezoito das 39 crianças estudadas eram de orfanatos. Elas foram observadas em casa brincando com jogos interativos e no colo das mães.
Antes e depois desse contato físico, as crianças forneceram uma amostra de urina para medir os níveis de dois hormônios: vasopressina, que ajuda a reconhecer indivíduos familiares e a viver em grupos sociais; e oxitocina, cuja liberação nos faz sentir seguros e protegidos e diminui o nível de stress.
Crianças dos orfanatos têm baixos níveis de vasopressina e, diferentemente das que são criadas pelos pais biológicos, seus níveis de oxitocina não aumentam com carinhos.
\"É impressionante que as deficiências das crianças nesses hormônios de afetos ainda possam ser detectados agora, depois que passaram três anos em lares adotivos calorosos\", disse Terrie Moffitt, psiquiatra desenvolvimentista do Kings College, de Londres. \"Uma questão não respondida é se as deficiências hormonais vão ou não vão resultar em dificuldades comportamentais para as crianças a longo prazo.\"
Os pesquisadores suspeitam que, se destituídas de um contato adulto próximo logo depois do nascimento, as crianças nunca desenvolverão completamente as regiões. \"Pensava-se que o cérebro vinha todo ligado, mas agora parece que as experiências sociais depois do nascimento são vitais para a abertura das regiões e o fortalecimento das conexões no cérebro para esses hormônios\", afirmou Pollak.
Os grupos planejam um estudo complementar com essas mesmas crianças para ver se é esse o caso. \"Isso sugere que temos de prestar muito mais atenção nas crianças que crescem em ambientes disfuncionais\", completou.
Ele também especula que dar muito carinho no nascimento leva a uma dependência de relações mais próximas na vida adulta.
\"A área do cérebro que age como receptor de oxitocina é também o centro de recompensa associado com os vícios de drogas. É possível que relações próximas funcionem como um vício, fazendo que as procuremos quando ficamos mais velhos.\"
http://txt.estado.com.br/editorias/2005/11/25/ger010.htm
The Guardian LONDRES
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