Mulheres já superam homens na escola |
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Publicado pela Folha Online 09/01/2006 |
(ANTÔNIO GOIS)
Para um país cuja marca maior é a desigualdade, a comparação de cinco indicadores educacionais entre 1992 e 2004 traz boas notícias: está diminuindo a distância que separa homens de mulheres e negros de brancos.
Uma comparação feita a partir da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) pelo sociólogo Simon Schwartzman, presidente do Iets (Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade) e ex-presidente do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mostrou que mulheres e homens e negros e brancos terminaram 2004 mais próximos do que estavam em 1992.
No caso das mulheres, a evolução foi tanta que já aponta para um novo problema: como fazer com que a desvantagem dos homens em relação a elas não aumente. Já quanto aos negros (pretos e pardos), o quadro mostra que, apesar dos avanços, a desigualdade ainda é marcante.
Foram comparados anos médios de estudo da população com mais de 25 anos, taxa de analfabetismo adulto, percentual de freqüência à escola de 7 a 14 anos e defasagem e atraso escolar entre os 10 e 14 anos.
Os avanços mais significativos na redução da desigualdade foram nos indicadores da população de 7 a 14 anos após a quase universalização do ensino nessa faixa etária e a diminuição significativa da defasagem escolar.
Na comparação de indicadores que levam em conta a população adulta, também houve redução, mas ela foi menos intensa porque, como se trata de todo o conjunto da população adulta, as mudanças demoram mais a surtir efeito.
Gênero
Na comparação entre sexos, as mulheres começaram a década passada em desvantagem em dois dos cinco indicadores: média de anos de estudo da população e taxa de analfabetismo adulto. Doze anos depois, já superavam eles em todos os quesitos analisados.
Naqueles em que desde 1992 a comparação já era favorável às mulheres (freqüência e atraso escolar), no entanto, houve diminuição na distância que as separava dos homens. De 1992 a 2004, a diferença a favor das mulheres em pontos percentuais caiu de 2,9 pontos para 0,9 no quesito freqüência escolar e de 8,6 para 6,3 na comparação entre as taxas de defasagem.
"As mulheres estão tendo um desempenho educacional muito melhor do que os homens. É um fenômeno importante que mostra que houve uma inversão", afirma Schwartzman.
Para ele, a distância a favor das mulheres cria um novo problema: "Nos países africanos, a discussão é sobre como fazer para que as mulheres tenham as mesmas oportunidades educacionais do que os homens. No Brasil, a preocupação é oposta".
Raça
Entre negros e brancos, a queda da desigualdade pode estar revertendo, mesmo que lentamente, um quadro apontado num estudo de 2001 do Ipea feito por Ricardo Henriques, hoje secretário de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do MEC.
Ele comparou a escolaridade média de negros e brancos desde 1929 e concluiu que "as curvas parecem construídas com intencional paralelismo, descrevendo, com requinte, a inércia do padrão de discriminação racial".
Nos últimos 14 anos, no entanto, a Pnad indica alteração nesse quadro. Em 1992, 2,3 anos de estudos separavam negros e brancos. Doze anos depois, essa diferença caiu para 2,1. Para Simon Schwartzman, não se pode dizer ainda que essa queda seja significativa, mas os indicadores que apontam para o futuro e os de analfabetismo mostram avanços.
A diferença no percentual de crianças que freqüentam escola entre brancos e negros, por exemplo, caiu de 12,5 pontos para 2,8.
"Hoje, com o acesso praticamente universalizado da escola na faixa etária de 7 a 14 anos, a principal diferença entre brancos e negros deixa de ser no acesso e passa a ser no desempenho", diz Schwartzman, citando um estudo feito pelo pesquisador da PUC-Rio, Creso Franco.
Esse estudo comparou notas do Saeb (exame do MEC que avalia a qualidade da educação) e mostrou que negros, mesmo em situação socioeconômica semelhante, tinham médias menores. O estudo explicava a diferença como uma forte evidência de preconceito na escola.
http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u18226.shtml
Folha de S.Paulo
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