Publicado pelo Aprendiz 27/01/2006

(Karina Costa)
Nem todas as meninas se sentem à vontade ao falar sobre sua vida sexual. Para tentar quebrar esse tabu, o projeto Menarca de Promoção da Saúde da Menina escalou meninas para conversar com outras meninas sobre assuntos como menstruação, namoro, gravidez, doenças sexualmente transmissíveis (DST´s). É proibida a entrada de meninos, pais, professores ou especialistas durante as conversas entre meninas de 13 a 16 anos. A proposta, desenvolvida por uma escola de Ponta Grossa (PR), é que as adolescentes opinem, perguntem, se informem e aprendam sobre o assunto sem constrangimentos.

"A idéia era que o projeto não fosse do tipo "professor bonzinho falando sobre educação sexual". Vi que daria mais certo se colocássemos as próprias meninas para conversar entre elas, até porque, além de a linguagem ser a mesma, todas estão passando pela fase de descobertas, têm as mesmas angustias, dúvidas e idéias. O papo só fica entre elas, o que facilita a perda da timidez e estimula a participação," conta o coordenador do projeto realizado pelo Colégio Sociedade Educacional Professor Altair Mongrue, Nelson Canabarro.

O projeto tem como enfoque principal a saúde da mulher. Em um primeiro encontro, o grupo de meninas conversa sobre anatomia, aparelho reprodutor feminino, menstruação e métodos contraceptivos. Num segundo encontro, elas falam sobre DST´s, AIDS, aprendem como usar camisinha, além de serem estimuladas a fazer o exame de prevenção de câncer de colo uterino e o auto-exame da mama.

Segundo Canabarro, o resultado é que, ao ser informada, a mulher se sente valorizada e em condições de impor ao seu parceiro sua decisão. "As meninas têm de estar cientes de que, se tiverem informações, evitam riscos e que elas têm o poder de decidir quando vão iniciar sua vida sexual sem pressão de ninguém. E, quando já iniciada a vida sexual, conseguem ter um diálogo aberto com seu parceiro sobre o uso da camisinha," acredita.

As meninas do colégio que se voluntariam para liderar o debate passam por uma capacitação junto a especialistas. Num primeiro momento, elas recebem material bibliográfico para ficarem a par do assunto e, na seqüência, são treinadas por dois ginecologistas e uma psicóloga, todos voluntários do projeto. "Elas aprendem sobre o assunto com os ginecologistas e a ter jogo de cintura para enfrentar situações delicadas conforme orientações da psicóloga," diz o coordenador acrescentando que as turmas de voluntárias se renovam periodicamente.

Se antes o Projeto Menarca atendia somente alunas do colégio ou tinha que ir atrás das outras escolas da região, agora a situação se inverteu: as escolas é que requisitam seus serviços. Desde 2002, o projeto atingiu cerca de 3 mil meninas de 38 escolas públicas e particulares da região. Atendeu também adolescentes de casa de menores infratoras, clube de mães e gestantes e até operárias de uma fábrica da região. Na cidade, a cada quatro crianças geradas, uma é de mãe adolescente. Segundo o coordenador, esse foi um dos motivos que o impulsionou a criar o projeto. "Verifiquei que, desde a implantação do projeto pelo menos aqui dentro do colégio, não tivemos mais nenhum registro de adolescentes grávidas," exauta.

Depois da conversa com as meninas, um colégio da região resolveu implantar seu próprio projeto para falar sobre educação sexual. "E é isso que queremos daqui para frente. Passar pelas escolas e estimular que adolescentes de cada colégio montem um grupo de discussão. Temos um gasto mensal de apenas R$ 150 por mês para fazer um projeto importante e que valoriza a capacidade dos adolescentes em aprender e ensinar e ainda se conscientizar," declara.

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