Publicado pelo Aprendiz 02/03/2006

(Vanessa Nakasato)
O diretor da escola municipal de ensino fundamental comandante Garcia D´Ávila, Waldir Romero, foi buscar na comunidade a fórmula para trabalhar respeito e cidadania com seus alunos. Localizada no Parque do Peruche, zona norte de São Paulo, há 10 anos, Garcia D´Ávila era depedrada, pichada, abandonada e só recebia alunos que eram excluídos ou expulsos de outros colégios. Era chamada por professores e moradores do bairro como "maloquinha".
Perplexo diante daquela situação ao assumir a escola, em 1995, Romero prometeu a si mesmo mudar aquele quadro, que considerou tão deplorável. Convicto de que a educação de um indivíduo se dá pela parceria entre escola e família, decidiu, então, se aproximar dos pais das crianças.
Estudou a história do bairro e descobriu que sua raiz era o samba. Ao fazer a descoberta, o diretor foi até a Escola de Samba Unidos do Peruche conhecer seus valores, seu universo e procedimento para, assim, conseguir se relacionar com as famílias.
"Quando você vai educar, precisa partir da realidade da sua escola na comunidade. Se eu estou na praia e há uma colônia de pescadores, não adianta eu falar sobre fazenda. Vou falar sobre rede, anzol e barco. Com esses elementos me aproximo do cotidiano deles. É mais fácil de se fazer compreender", explica Romero.
O diretor usou a comunidade como ponte para que a criança enxergasse seu mundo, sua realidade e gostasse dela. Nem todos gostam de samba. Mas é uma linguagem que, no Peruche, a maioria da comunidade conhece e se identifica.
Muitos alunos da escola convivem com adultos que têm problemas como omissão, violência, ausência ou uso de drogas. Conforme Romero, a maior ferida das crianças é de ordem sócio-afetiva. Se elas estão infelizes por algum motivo, não têm motivação para aprender. Isso, em geral, está ligado à família.
Com base no samba, o diretor e sua equipe criaram o projeto O mundo do conhecimento e o conhecimento do mundo. Ele funciona na escola como uma atividade transversal. Ponto de atração? A música. Membros da Unidos do Peruche ministram aulas de cavaquinho, percussão e samba enredo a todos os alunos interessados em aprendê-los.
A música tem trazido resultados positivos na vida dos meninos. Ao tocar samba, as crianças desenvolvem sua sensibilidade, raciocínio lógico matemático e se descobrem enquanto seres. Aprendem a dividir, ter harmonia, andamento. O aluno se percebe como parte de uma equipe na música. "E quando eles tocam, percebem que as relações comunitárias precisam ter harmonia e ritmo também", ressalta Romero.
Os pais são sempre convidados a participar de todas as atividades da escola. A Garcia D´ávila têm suas portas abertas desde 1996. E além do samba, a escola ainda oferece aulas de judô, karatê, capoeira e informática, cursos conseguidos graças aos voluntários, moradores da comunidade.
Atrair pais para dentro da escola não foi uma tarefa muito fácil. Nos primeiros meses, Romero saía batendo de porta em porta para falar com a comunidade. "No começo achavam estranho. Como um diretor de escola vai para a rua falar com as pessoas? A população está acostumada com o diretor que fica atrás de sua mesa o dia inteiro", afirma.
O diretor e a coordenação convocavam os pais para reuniões periódicas. Quando o responsável não aparecia, Romero ia, literalmente, chamar o pai dentro de casa. "Eles sempre falavam: "Não fui porque estava trabalhando, não tenho tempo".
Então eu dizia: Diga-me que dia e que horas o senhor tem tempo. Quinta-feira, 5h? Domingo às 14h? Fulano é seu filho e eu preciso falar com o senhor sobre ele", conta. Hoje, a comunidade entende que o diretor não tem de que ir a casa deles. Os pais vão até a escola.
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